quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Nisargadatta - A obsessão com o corpo


Sri Nisargadatta Maharaj - I Am That
D: Maharaj, você está sentado aí, diante de mim e eu estou aqui a seus pés. Qual a diferença básica entre nós?
M: Não há nenhuma diferença básica.
D: Mas, ainda assim parece ter alguma diferença real. Eu vim a você, você não veio até mim.
M: É porque você imagina essas diferenças que você veio aqui e vai ali em busca de uma pessoa superior.
D: Mas você é uma pessoa superior. Você alega conhecer a realidade enquanto eu não.
M: Eu por acaso lhe disse que você não sabe nada e, portanto, que você é inferior? Deixe aqueles que criaram essas distinções, prová-las. Eu não alego conhecer algo que você não conhece. Na verdade eu sei muito menos do que você.
D: Suas palavras são sábias, seu comportamento é nobre e sua graça é poderosa.
M: Eu não sei nada sobre tudo isso e não vejo diferença nenhuma entre você e eu. A minha vida é uma sucessão de eventos exatamente como a sua. A única coisa é que estou desapegado e vejo o show que passa somente como um show que passa enquanto você se apega às coisas e vai com elas de um lado para o outro.
D: O que o torna uma pessoa tão imparcial?
M: Nada em especial. Aconteceu que eu acreditei no meu Guru. Ele me disse que eu não sou nada além de mim mesmo, e eu acreditei nele. Acreditando nele, eu passei a me comportar de acordo e parei de me preocupar com tudo o que não era eu ou que não era do meu ser.
D: Por que você foi tão bem aventurado em acreditar totalmente no seu professor enquanto nossa fé é nominal e verbal?
M: Quem pode dizer? Isso simplesmente aconteceu. Coisas acontecem sem causa e sem razão e, de qualquer forma, que diferença faz quem é quem? A sua elevada opinião sobre mim é apenas a sua opinião. A qualquer momento você pode mudá-la. Por que dar tanta importância a opiniões, mesmo que sejam as suas?
D: Ainda assim você é diferente. Sua mente parece estar sempre quieta e feliz e milagres acontecem a sua volta.
M: Eu não sei nada sobre milagres. E fico pensando se a natureza admite exceções às suas leis, a menos que concordemos que tudo seja um milagre. Para mim, isso não existe. Há uma consciência onde tudo acontece. Esses milagres são bastante óbvios e fazem parte da experiência de todos. Você apenas não olha com o cuidado suficiente. Olhe atentamente e veja o que eu vejo.
D: E o que você vê?
M: Eu vejo o que você também pode ver aqui e agora, mas pelo foco errado da sua atenção. Você não dá atenção a si próprio. Sua mente está cheia de coisas, pessoas e idéias, nunca com você mesmo. Coloque a si mesmo dentro do foco. Torne-se consciente da sua própria existência
Veja como você funciona, verifique os motivos e os resultados das suas ações. Estude a prisão que você, inadvertidamente, construiu a sua volta. Descobrindo o que você não é você acabará se conhecendo. O caminho de volta a si mesmo vai através da recusa e da rejeição. Uma coisa é certa: o real não é imaginário, não é produto da mente.
Até mesmo o sentido de "eu sou" não é continuo, apesar de ser um sinalizador útil; ele mostra onde procurar mas não o que procurar. Apenas dê uma boa olhada nisso. Uma vez que você estiver convencido de que você não pode dizer verdadeiramente nada sobre si próprio, exceto "eu sou", e de que nada para o que você possa apontar pode ser você mesmo, a necessidade do "eu sou" termina. Você não mais tentará verbalizar o que você é. Tudo o que você precisa é livrar-se da tendência de definir a si mesmo. Todas as definições aplicam-se somente ao seu corpo e às suas expressões. Uma vez que esta obsessão com o corpo termine, você reverterá ao seu estado natural, espontaneamente e sem esforço.
A única diferença entre nós é que eu estou consciente do meu estado natural, enquanto você está a devanear. Assim como o ouro usado numa jóia não leva nenhuma vantagem em relação ao ouro em pó, exceto quando a mente as cria, assim também somos uno em essência - diferimos apenas na aparência. Descobrimos isto sendo sinceros, procurando, inquirindo, questionando diariamente, a toda hora, dedicando uma vida a essa descoberta.


segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Osho - Dois pássaros estão numa gaiola


"Jesus disse: 'Dois repousarão numa cama: um morrerá e o outro viverá.'"

                Exatamente as mesmas palavras estão nos Upanishads. Eles dizem que existem dois pássaros numa árvore: um num galho mais baixo e outro pousado num galho mais alto. O pássaro do galho inferior pensa, preocupa-se, deseja, ordena, acumula, luta, compete; está sempre angustiado, tenso, salta de um galho para o outro, movimentando-se  sempre sem nunca repousar.
                O outro está pousado num galho superior, está em repouso. Está tão silencioso que é como se não estivesse lá. Não tem nenhum desejo, nenhum sonho. Não tem necessidades a satisfazer, é como se não tivesse nenhum lugar para ir. Fica simplesmente sentado, alegrando-se consigo mesmo, e observa o pássaro que está no galho inferior.
                Estas são as suas duas dimensões. Você é a árvore. O que está mais baixo está sempre perturbado. O inferior é seu corpo; as necessidades e desejos são corporais. No galho superior, no topo da árvore, pousa o outro pássaro que é o espectador; fica simplesmente olhando para as tolices do pássaro que está embaixo, pulando, movendo-se em angústia, ansiedade, raiva e sexo — tudo acontece a ele.
                Esse pássaro do galho superior é apenas um observador; simplesmente olha aqui e ali como um espectador. Quando a pessoa se esquece de si mesma, completamente, então se torna  uma só — é a árvore.
                Jesus diz a mesma coisa com um símbolo diferente: "Dois repousarão numa cama..." Você é a cama. "Dois repousarão numa cama: um morrerá e o outro viverá." Agora, a questão é a quem se deve dar atenção. Para qual você deve mover-se, para qual toda sua energia deve fluir? Qual deve ser sua meta?
                Normalmente, aquele que vai morrer é a sua meta. É por isso que está sempre ansioso, porque está construindo uma  casa na areia. Ela vai cair — antes mesmo de ser construída, ela cairá e se transformará em ruínas.
                Você tem medo porque está escrevendo seu nome na água — antes de completá-lo, ele já terá ido embora. Sua ansiedade existe porque está interessado no âmbito da morte e não tem olhado na direção da vida. Em cada cama os dois estão dormindo — o outro é apenas um espectador.
Preste mais atenção a ele, volte-se cada vez mais para ele — é isto que significa conversão. Conversão não significa um hindu tornar-se cristão ou um cristão tornar-se hindu. Isto é tolice, uma simples mudança de rótulo. Isso não é mudança, porque o homem interno permanece o mesmo, no velho padrão.
                Conversão quer dizer mudar a atenção do âmbito da morte para o âmbito da vida. Há um giro: você olha para o observador, torna-se um com ele, perde-se dentro dele, dentro da consciência e sabe que aquele que vai morrer morrerá. Mas isto não o perturba, não é o problema — porque você sabe que não morrerá e que não há o que temer.
                "Jesus disse: 'Dois repousarão numa cama: um morrerá e o outro viverá.'"
                E isto cabe a você. Se quiser continuar tendo problemas, nunca dê atenção ao ser interno: se quiser permanecer sempre angustiado, fique na periferia, não olhe para dentro. Mas se quiser repousar, se quiser a paz eterna, se quiser que as portas do céu se abram para você, então olhe para dentro. É difícil — é difícil porque é muito sutil. É possível ver a matéria, mas não o espírito; ele não pode ser visto. É possível ver onde o visível termina, mas não onde o invisível está.
                Então, o que deve ser feito? Permaneça no limite do visível e não olhe para ele; olhe na direção oposta. Gradualmente, o invisível começará a ser sentido. É uma sensação, não um entendimento; não pode ser visto, apenas sentido. É como a brisa: ela vem; você a sente, mas não pode vê-la. É como o céu: está lá, mas você não pode dizer 'onde', não pode localizá-lo, não pode tocá-lo. Está sempre lá, e você está nele, mas não pode tocá-lo.

                Permaneça no limite do visível, olhando na direção oposta. Isso é o que significa meditação. Sempre que puder encontrar um momento de paz, feche os olhos e deixe o corpo, os prazeres corporais e o mundo da morte para trás; deixe tudo: as lojas, o escritório, a esposa, os filhos.
                Na primeira vez, não sentirá nada por dentro. Hume disse: "Muitas pessoas têm falado a respeito de ir para dentro e ver. Mas sempre que olho não encontro nada — só pensamentos, desejos, sonhos, flutuando aqui e ali — um caos." Você também sentirá a mesma coisa. E se concluir que não vale a pena olhar outra e outra vez esse caos, então sairá perdendo.
                No começo, só verá o caos, porque seus olhos só podem ver isso — eles precisam ser afinados. Continue olhando para os sonhos flutuantes. Eles voam como as nuvens no céu; entre dois sonhos, nuvens, algumas vezes você verá o azul do céu; entre dois sonhos, dois pensamentos, algumas vezes verá o céu. Não tenha pressa. Se tiver, não conseguirá nada.
                Existe um ditado zen: "Corra vagarosamente." Isso está certo! Corra!Porque você está morrendo — nesse sentido, existe pressa. Mas por dentro, se tiver muita pressa, perderá, porque chegará às conclusões cedo demais, antes que seus olhos tenham se acostumado. Não conclua cedo demais.
                Corra vagarosamente. Espere! Vá, sente-se, e espere. Aos poucos, o mundo novo do invisível tornar-se-á claro, chegará até você. Ao se acostumar com ele, poderá ouvir a harmonia, a melodia; o silêncio dará início à sua própria música. Ela está sempre aí, mas é tão silenciosa que são necessários ouvidos muito treinados para ouvi-la.
                Não é como um ruído, é como o silêncio. O som interior é silencioso; a forma interior não tem forma. Não tem tempo nem espaço e tudo o que você conhece está no espaço ou no tempo, e atualmente os físicos dizem que essas duas coisas, na realidade, não são duas: o tempo é apenas a quarta dimensão do espaço.
                Você só conhece tempo e espaço; o mundo das coisas e dos eventos. Não conhece o mundo da auto-observação. Está além de ambos, não está confinado a nenhum espaço ou tempo. A duração existe, mas sem tempo; o espaço existe, mas sem altura, largura ou volume — é um mundo totalmente diferente.
                Será preciso acostumar-se com ele, portanto não se impaciente — impaciência é a maior barreira. Percebi que quando as pessoas começam a trabalhar em direção ao ser interno, a maior barreira é a impaciência. É necessária uma paciência infinita. Pode acontecer no momento seguinte, mas a paciência infinita é necessária.
                Se você for impaciente, talvez não aconteça durante vidas, porque a própria impaciência não lhe permitirá o repouso, a tranquilidade da qual Jesus fala. Até mesmo uma pequena expectativa será um distúrbio. Se estiver pensando que alguma coisa irá acontecer, alguma coisa extraordinária, então nada acontecerá. Se estiver esperando que a iluminação aconteça, perderá. Não tenha expectativas! Todas elas pertencem ao mundo da morte, à dimensão do tempo e do espaço.
                Nenhuma meta pertence ao interior. Não há outro meio para isso, a não ser esperar, com uma paciência infinita. Jesus disse: "Observe e tenha paciência." E um dia, de repente, estará iluminado. Um dia, quando a afinação certa acontecer, quando estiver pronto, de repente, estará iluminado. Toda a escuridão desaparecerá e você estará repleto de vida, de vida eterna, a qual nunca morrerá.

Osho, em "A Semente de Mostarda"

Satyaprem - Você é o obstáculo

sábado, 25 de setembro de 2010

A cabana - Novos Textos


A Intenção não é comentar como fiz na primeira parte, mas através do grifo destacar a grande mensagem do texto.

Página 95
Mack  ficou chocado diante da cena.  Jesus deixara  cair uma grande  tigela com  algum  tipo de massa ou molho no chão, e a coisa tinha se espalhado por toda parte. A barra da saia de Papai e seus pés descalços estavam cobertos pela massa gosmenta. Sarayu disse alguma coisa sobre a falta de jeito dos humanos e os três caíram na risada. Por fim, Jesus passou por Mack e voltou com toalhas e uma grande bacia de água. Sarayu já estava começando a limpar a sujeira do chão e dos armários, mas Jesus foi direto até Papai e, ajoelhando-se aos pés dela, começou a limpar a  frente de seu vestido. Gentilmente  levantou um pé de cada vez e colocou os dois na bacia, onde os limpou e massageou.
- Uuuuuh, isso é tãããão bom! - exclamou Papai.
Encostado  no  portal,  Mack  não  parava  de  pensar.  Então  Deus  era  assim  no relacionamento? Muito  linda  e  atraente!  Ele  sabia  que  ninguém  estava  em  busca  do culpado  pela  sujeira  do  chão,  pela  tigela  quebrada  ou  por  um  prato  que  não  seria compartilhado. Era óbvio que o que  realmente  importava era o amor que eles  sentiam uns pelos outros e a plenitude que esse amor  lhes  trazia. Balançou a cabeça. Como  isso era diferente da maneira como ele tratava seus entes queridos!
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Página 111
- Mackenzie, não existe conceito de autoridade superior entre nós, apenas de unidade. Estamos num círculo de relacionamento e não numa cadeia de comando. O que você está vendo  aqui  é  um  relacionamento  sem  qualquer  camada  de  poder.  Não  precisamos exercer poder um sobre o outro porque sempre estamos procurando o melhor. A hierarquia não faria sentido entre nós. Na verdade, isso é um problema de vocês, não nosso.
- Verdade? Como assim?
- Os humanos estão tão perdidos e estragados que para vocês é quase incompreensível que as pessoas possam trabalhar ou viver juntas sem que alguém esteja no comando.
- Mas qualquer instituição humana, desde as políticas até as empresariais, até mesmo o casamento, é governada por esse tipo de pensamento.
É a trama do nosso tecido social - declarou Mack.
- Que desperdício! - disse Papai, pegando o prato vazio e indo para a cozinha.
- Esse é um dos motivos pelos quais é tão difícil para vocês experimentar o verdadeiro relacionamento  -  acrescentou  Jesus.  -  Assim  que  montam  uma  hierarquia,  vocês precisam de regras para protegê-la e administrá-la, e então precisam de leis e da aplicação das leis, e acabam criando algum tipo de cadeia de comando que destrói o relacionamento, em  vez  de  promovê-lo.  Raramente  vocês  vivem  o  relacionamento  fora  do  poder.  A hierarquia impõe leis e regras e vocês acabam perdendo a maravilha do relacionamento que nós pretendemos para vocês.
- Bom - disse Mack com sarcasmo, recostando-se na cadeira. - Certamente parece que nos adaptamos muito bem a isso.
Sarayu foi rápida em responder:
- Não confunda adaptação com intenção, ou sedução com realidade.
- Então... ah, por  favor, poderia me passar mais um pouco dessa verdura?  ... Então nós fomos seduzidos por essa preocupação com a autoridade?
- De  certo modo,  sim!  -  respondeu Papai, passando o prato de verduras para Mack com uma certa relutância. - Só estou cuidando de você, filho.
Sarayu continuou:
-  Quando vocês escolhem a independência nos relacionamentos tornam-se perigosos uns para os outros. As pessoas se tornam objetos a serem manipulados ou administrados para  a  felicidade  de  alguém.  A  autoridade,  como  vocês  geralmente  pensam  nela,  é meramente a desculpa que o forte usa para fazer com que os outros se sujeitem ao que ele quer.
-  Ela  não  é  útil  para  impedir  que  as  pessoas  lutem  interminavelmente  ou  se machuquem?
- Às vezes. Mas num mundo egoísta também é usada para infligir grandes danos.
- Mas vocês não a usam para conter o mal?
- Nós respeitamos cuidadosamente as suas escolhas e por isso trabalhamos dentro dos seus sistemas, ao mesmo tempo que procuramos libertá-los deles - continuou Papai. - A Criação  foi  levada por um caminho muito diferente daquele que desejávamos. Em seu mundo,  o  valor  do  indivíduo  é  constantemente  medido  em  comparação  com  a sobrevivência do sistema, seja ele político, econômico, social ou  religioso; na verdade, de qualquer sistema. Primeiro uma pessoa, depois umas poucas e finalmente muitas são facilmente sacrificadas pelo bem e pela permanência do  sistema. De uma  forma ou de outra, isso está por trás de cada luta pelo poder, de cada preconceito, de cada guerra e de cada  abuso  de  relacionamento.  A  "vontade  de  poder  e  independência"  se  tornou  tão disseminada que agora é considerada normal.
- E não é?
- É  o  paradigma  humano  -  acrescentou  Papai,  após  retornar  com mais  comida.  – É como água para os peixes,  tão natural que permanece  sem  ser vista e questionada. É a matriz,  uma  trama  diabólica  em  que  vocês  estão  presos  sem  esperança,  mesmo  que completamente inconscientes da sua existência.
Jesus continuou:
-  Como  glória  máxima  da  Criação,  vocês  foram  feitos  à  nossa imagem.  Se  realmente  tivessem  aprendido  a  considerar  que  as  preocupações  dos  outros  têm  tanto  valor  quanto  as  suas,  não  haveria  necessidade de hierarquia.
Mack se recostou na cadeira, perplexo com as implicações do que ouvia.
-  Então vocês estão me dizendo que sempre que nós, humanos, usamos o poder para nos proteger...
-  Estão cedendo à matriz e não a nós - terminou Jesus:
E  agora  -  exclamou  Sarayu  -  completamos  o  círculo,  voltando  a  uma  das  minhas declarações iniciais: vocês, humanos, estão tão perdidos e estragados que não conseguem compreender um relacionamento sem hierarquia. Por isso acham que Deus se relaciona dentro de uma hierarquia, tal como vocês. Mas não somos assim.
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Página 121
- Antes você estava falando que os humanos declaram que as coisas são boas ou ruins sem conhecer? - perguntou Mack, sacudindo a terra de uma raiz.
- É. Estava falando especificamente da árvore do conhecimento do bem e do mal.
- A árvore do conhecimento do bem e do mal?
- Exato!  - declarou  ela.  - E  agora, Mackenzie, você  está  começando  a  entender  por que comer o fruto mortal daquela árvore foi tão devastador para a sua raça.
- Na  verdade  eu  nunca  havia  pensado muito  nisso  -  disse Mack,  intrigado.  – Então houve um jardim de verdade? Quer dizer, o Éden?
- Claro. Eu lhe disse que tenho uma queda por jardins.
-  Isso vai incomodar algumas pessoas. Tenho alguns amigos que não vão gostar disso - observou Mack, enquanto lutava com uma raiz teimosa.
- Não faz mal. Eu gosto muito deles.
Estou surpreso - disse Mack com um certo sarcasmo e sorriu para ela. Cravou a pá na terra,  pegando  com  a  mão  a  raiz  que  estava  por  cima.  -  Então  fale  da  árvore  do   conhecimento do bem e do mal.
-  É  disso  que  estávamos  falando  no  café  da  manhã.  Primeiro  quero fazer  uma  pergunta  a  você.  Quando  algo  lhe  acontece,  como  você  determina se é uma coisa boa ou ruim?
Mack pensou um momento antes de responder. - Bom, na verdade nunca pensei nisso. Acho que eu diria que algo é bom quando eu gosto, quando faz com que eu me sinta bem ou me dá um sentimento de segurança. Por outro lado, eu diria que uma coisa é ruim se me causa dor ou custa algo que eu quero.
- Então é bastante subjetivo?
- Acho que sim.
- E até que ponto você confia em sua capacidade de discernir o que é bom ou o que é
ruim para você?
-  Para ser honesto, acho que tenho razão de ficar com raiva quando alguém ameaça o
que  eu  considero  "bom",  o  que  eu  acho  que mereço. Mas  não  sei  realmente  se  existe algum fundamento lógico para decidir o que é bom ou ruim, a não ser o modo como algo ou alguém me afeta. - Ele parou para descansar e recuperar o fôlego. - Tudo parece relacionado  comigo  e  com  meus  interesses,  acho.  E  minha  ficha  também  não  é  das melhores.  Algumas  coisas  que  eu  inicialmente  achava  boas  acabaram  sendo terrivelmente destrutivas, e outras que eu achava ruins, bem, acabaram sendo...Ele hesitou antes de finalizar o pensamento, mas Sarayu o interrompeu.
-  Então  é  você  que  determina  o  que  é  bom  e  o  que  é  ruim.  Você  se torna  o  juiz.  E,  para  tornar  as  coisas  ainda  mais  confusas,  aquilo  que você  determina  que  é  bom  acaba  mudando  com  o  tempo  e  as  circunstâncias.  E,  pior  ainda,  há  bilhões  de  vocês,  cada  um  determinando  o  que é  bom  e  o  que  é  ruim.  Assim,  quando  o  seu  bom  e  o  seu  ruim  se  chocam com os do vizinho, seguem-se brigas, discussões e até guerras.
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Página 123
- Agora posso ver  - confessou  - que gastei a maior parte do meu  tempo e da minha
energia  tentando adquirir o que eu achava que era bom, como a segurança financeira, a saúde, a aposentadoria, ou sei lá o quê. E gastei uma quantidade gigantesca de energia e preocupação temendo o que determinei que era mau. - Mack deu um suspiro fundo.
- Quanta  verdade  há  nisso!  -  disse Sarayu  com  gentileza.  - Lembre-se.  Isso  permite que vocês brinquem de Deus em sua  independência. Por essa razão, uma parte de vocês prefere não me ver. E vocês não precisam de mim para  criar  sua  lista do que  é bom  e ruim. Mas  precisam  de mim  se  tiverem  qualquer  desejo  de  parar  com  essa  ânsia  tão insana de independência.
- Então há algum modo de consertar?
- Você deve desistir de  seu direito de decidir o que  é bom  e  ruim  e  escolher viver
apenas em mim. É um comprimido difícil de engolir. Para isso você deve me conhecer o bastante, a ponto de confiar em mim e aprender a se entregar à minha bondade inerente.
Mack teve a impressão de que Sarayu se virou para ele.
-  Mackenzie, o mal é uma palavra que usamos para descrever a ausência de Deus,
assim como usamos a palavra escuridão para descrever a ausência de Luz, ou morte para descrever a ausência de Vida. Tanto o mal quanto a escuridão só podem ser entendidos em relação à Luz e ao Bem. Eles não têm existência real. Eu sou a Luz e eu sou o Bem. Sou Amor e não há escuridão em mim. A Luz e o Bem existem realmente. Assim, afastar-se de  mim  irá  mergulhar  você  na  escuridãoDeclarar  independência  resultará  no  mal,  porque, separado de mim, você só pode contar consigo mesmo. Isso é morte, porque você se separou de mim, que sou a Vida.
-  Uau!  -  exclamou  Mack,  sentando-se  por  um  momento.  -  Isso  realmente  ajuda.  Mas  também  posso  ver  que  abrir  mão  dos  meus  direitos de independência não será um processo fácil. Poderia significar que...
Sarayu interrompeu a frase dele outra vez.
-  ... que de alguma forma o bem pode ser a presença do câncer ou a perda de ganhos financeiros, ou mesmo de uma vida.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Osho - O Oceano caiu na gota






Sobre o florescimento, o acordar, a auto-realização e a iluminação
Manhã de 20 de março de 1987
No Auditório Chuang Tzu, Puna, India

                 Amado osho,
                há pouco tempo, você disse que a primavera chegou e que muitos saniásins estão prontos para florescer.
                "Florescimento", "acordar" e "auto-realização", todos significam iluminação, a suprema verdade? ou há uma diferença? e uma pessoa, depois de ter atingido, pode recair na identificação com a mente?
                Mukto,  há uma diferença entre o florescimento, o acordar, a auto-realização e a iluminação. A iluminação é a suprema verdade - o buscador desaparece, mas a verdade é encontrada. O peregrino desaparece, mas Deus é encontrado.
                É importante compreender as diferenças...
                Da iluminação não há nenhuma possibilidade de recaída, porque não mais existe alguém para cair de volta. Enquanto você existe, há a possibilidade. Somente a sua ausência é a garantia de que você não pode recair.
                O florescimento é apenas o começo da entrada em si mesmo - exatamente como quando você entra num jardim. É imensamente importante, porque, sem entrar, você nunca alcançará o centro. Mas, no florescimento, pela primeira vez você reconhece seu potencial, sua possibilidade. No florescimento, está o período de transição, do humano para o divino. Mas a pessoa pode cair de volta, porque o florescimento é tão novo e tão frágil e seu passado é tão velho e tão forte... - ele pode puxá-lo de volta: ele ainda existe.
                Com o acordar você já está chegando muito perto do seu centro. E, à medida que você vai chegando mais perto do centro, vai se tornando cada vez mais difícil cair de volta, porque sua nova experiência está acumulando poder, força, experiência e o velho está perdendo força. Mas o velho ainda existe: ele ainda não desapareceu.  Comumente, as pessoas não caem do acordar, mas a possibilidade permanece: pode-se cair.
                A auto-realização é a chegada no seu centro. Muitas religiões acreditavam que a auto-realização era o fim. Por exemplo, o jainismo - você teria chegado à sua suprema verdade. Isso não é verdade. A auto-realização é somente uma gota que se tornou consciente, alerta, satisfeita, preenchida. É quase impossível recair da auto-realização - mas eu estou dizendo "quase" impossível, não "absolutamente" impossível, porque o si-mesmo  (self) pode enganá-lo: ele pode trazer seu ego de volta.
                O si-mesmo e o ego são muito parecidos. O si-mesmo é a coisa natural e o ego é o sintético; assim, acontece, às vezes, de um homem auto-realizado tornar-se um egoísta respeitoso. Seu egoísmo não vai ferir ninguém, mas certamente impede-o de cair no oceano e desaparecer completamente.
                A iluminação é gota de orvalho deslizando da folha do lótus para dentro do vasto e infinito oceano. Uma vez que a gota de orvalho tenha caído no oceano, agora então, não há nenhum meio sequer de encontrá-la. A questão de retornar não existe.
                A iluminação, desse modo, é a suprema verdade. O que começa no florescimento passa pelo caminho do acordar, alcança a auto-realização. Então, mais um salto quântico - o desaparecimento no eterno, no infinito.
                Você não mais existe.Somente a existência existe.
                Eu lhes contei sobre Kabir, o maior místico da Índia. Quando ele era jovem, ele tornou-se auto-realizado e escreveu um pequeno dístico:
                HERAT, THERAT HE SAKHI
                RAHYA, KABIR, HERAI
                "Buscando e buscando e buscando, oh, meu amigo, o buscador está perdido. Buscando e buscando e buscando, o buscador está perdido."
                BUND SAMANI SAMUND MEIN
                SOKAT HERIJAI
                 "A gota de orvalho escorregou para dentro do oceano; agora, não há mais jeito de recolhê-la."
                Mas, era cedo demais para dizer isso. A gota de orvalho ainda estava ali, escorregando em direção ao oceano, mas ainda não tinha caído dentro do oceano.
                Quando Kabir estava morrendo, ele se tornou iluminado. Ele chamou seu filho Kamaal e lhe disse: "Eu escrevi algo errado. Naquele momento, aquele era meu sentimento - que eu tinha chegado ao supremo. Antes de morrer, escreva isto e mude aquilo.".
                A mudança é muito pequena em termos, mas em experiência é tremenda. Ele usou novamente as mesmas palavras:
                HERAT, HERAT HE SAKHI - "Oh, amado, buscando e buscando o buscador se perdeu.".
                SAMUND SAMUND BUND MEIN
                SOKAT HERIJAI - "E o oceano entrou na gota de orvalho; agora, é impossível encontrá-la.".
                Uma simples diferença nas palavras... "A gota de orvalho caiu dentro do oceano" - algo do si-mesmo ainda permanece. Mas "o oceano caiu dentro da gota de orvalho"... essa é a tremenda experiência e explosão da iluminação. A primeira afirmação era sobre a auto-realização; a segunda afirmação é sobre a iluminação.
                Da iluminação, cair é simplesmente impossível. Você se foi - e se foi para sempre: nem mesmo uma sombra ou um traço de você ficou para trás.
                Até a auto-realização, a possibilidade permanece - ela se torna cada vez menor, mas permanece. Você pode começar a ser egoísta quanto à sua auto-realização: "Eu conheci, eu sou uma pessoa realizada. Eu sou um santo, eu encontrei Deus" - mas esse "eu" está ali, por mais respeitoso que seja. Até mesmo uma sombra é perigosa: ela pode puxá-lo de volta.
       
Osho, The Hidden Splendor, #16

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Os sete vales - Sétimo Vale


 E então vem O Sétimo Vale, que é o último, o definitivo o vale dos hinos, o vale da celebração.

        Renascimento, ressurreição, acontecem no sétimo vale. É esse o significado da idéia cristã da ressurreição - que Cristo renasceu, renasceu num corpo de glória, renasceu num corpo de luz, renasceu num corpo divino. Agora, não há positivo, não há negativo. Agora, não há dualidade. Um é um. A unidade surgiu - o que os hindus chamam de adwaita. O dual desapareceu. Chegamos em casa.
        O vale dos hinos...Al-Ghazzali lhe deu um bonito nome. Nada restou - apenas uma canção, uma canção de celebração, de louvor a Deus, total êxtase. É isto o que eu chamo de orgasmo definitivo.
        Se eu fosse dar um nome a este vale, eu o chamaria vale do orgasmo total. Há apenas celebração.

OSHO

Os sete vales - Sexto Vale


  Aí vem O Sexto Vale - o vale abismal.

        Desaparece-se. No quinto estava desaparecendo; no sexto não mais existe. Desaparece-se se é apenas memória do passado. No quinto você estava entrando na morte; no sexto, a morte aconteceu, morreu-se, não mais se existe. É por isso que é chamado de 'vale abismal". É o mais doloroso, porque é o sexto, o penúltimo. Passa-se pela grande dor de não ser, do nada. Não se pode acreditar - porque em certo sentido , se existe, e num outro sentido, não mais se existe. O paradoxo chegou ao pico definitivo. Existe-se e não se existe. Pode-se ver o próprio cadáver - morremos - e ainda assim, sabe-se que estamos vendo, que estamos resistindo de algum modo, em algum sentido. Todas as idéias do passado do ser se tornaram irrelevantes. Uma nova idéia de ser surge.
        A morte acontece, desaparecemos. É isso que os cristão chamam de crucificação. Alcançamos o nada, somos apenas um céu vazio. Os hindus o chamam de samadhi, o povo zen o chama de satori.
        E a parte negativa reclama. Será bom relembrar vocês. Na crucificação, Jesus Cristo mostrou ambas as atitudes. Primeiro ele reclamou. Ele olhou para o céu e disse: "Porque? Porque o Senhor me desamparou? "Porque o Senhor me abandonou? Esta é a parte negativa. Ele está reclamando. Ele está morrendo e não chega nenhuma ajuda. Ele está na cruz - e bem lá no fundo devia haver um desejo a espreita, um desejo de que a mão de Deus viria e tudo estaria ok, e a cruz se tornaria uma coroa e ele desceria numa nova glória. Em algum lugar devia haver um desejo a espreita, no mais profundo inconsciente de sua mente - ele poderia nem estar consciente dele. Ele esperou suficientemente, a última questão chegou. Ele carregou a cruz nas montanhas, ele sofreu todos os tipos de humilhação, mas ele esperou, esperou pacientemente - esperou por este momento. Agora as suas mãos foram pregadas. É uma questão de segundos e ele terá ido. Não há mais tempo para esperar e a ajuda não veio...e Deus não está visível. Por isso o grito "Porque me desamparaste? Porque me abandonaste?" Esta é a parte negativa, natural até num homem como Jesus.
        Se você pensa no seu passado e reclama - "Eu tenho feito tudo o que me foi pedido, tudo o que me foi ordenado fazer. Eu o segui cegamente, e é este o resultado? É esta a realização?"
        A parte positiva é gratidão profunda. Com a segunda parte, a parte positiva, esquecemos o passado, olhamos para o futuro e confiamos. O último teste chegou, o teste definitivo, e nos sentimos gratos de que "se for este o seu desejo, seja feita a sua vontade". É isso o que Jesus fez. Ele mostrou ambas as atitudes. Primeiro, ele mostrou a negativa - o que é muito humano. É por isso que ele costumava dizer sempre :"Eu sou o filho do homem". Tantas vezes quantas disse "Eu sou o filho de Deus" , ele disse "eu sou o filho do homem".
Ele era a eternidade entrando no tempo; ele era o além vindo para o mundo. Ele pertencia a ambos, o mundo e o além. É como cada mestre se relaciona - com ambos. Um pé está num mundo, o outro pé está no outro mundo. E no dia da crucificação naquele momento em que tudo estava desaparecendo, Jesus mostrou as duas atitudes. Primeiro ele mostra a atitude de ser "Filho do Homem". Ele diz :"Porque? Porque me abandonaste? Eu esperei, eu orei, eu vivi uma vida de virtude - e essa é a realização? Essa é a recompensa?"
        Mas imediatamente ele compreende que está se perdendo. Se é esse o desejo de Deus, então tem que ser assim. Ele se rende. A parte positiva é gratidão, rendição.
        Com "Porque me abandonaste?" ele reconhece a sua queixa, a sua humanidade. Ele deve ter rido naquele momento, ele deve ter visto a sua limitação como ser humano, e jogou-a fora. Imediatamente ele disse, sua declaração imediata: "O reino veio. Assim seja". Agora ele não mais existe. Agora ele não tem desejo próprio.
       

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Os sete vales - Quinto Vale


  O Quinto Vale...o vale trovejante.

        No quinto vale você entra na morte. No quarto vale você entrou no sono, na escuridão; no quinto você entra na morte. Ou, se você gostar de usar terminologia moderna, no quarto você entra no inconsciente pessoal, no quinto você entra no inconsciente coletivo. Surge um grande medo porque você está perdendo a sua individualidade.
        No quarto você estava perdendo luz, dia, mas você existia. No quinto você está se perdendo - você não sente como se existisse, você está se dispersando, você está se fundindo. Seu sentimento de que "eu sou um centro" começa a se tornar vago, enevoado.
        Com a entrada na morte, com a entrada no inconsciente coletivo surge um grande medo, grande angústia é sentida - a maior angústia que você jamais sentiu - porque surge a questão: ser ou não ser? Você está desaparecendo, todo o seu ser desejará ser. Você gostaria de voltar ao quarto vale. Era escuro, mas pelo menos era bom - você existia lá. Agora, a escuridão se tornou mais densa. Não apenas isso, você está desaparecendo dentro dela. Logo, nenhum traço seu existirá.
        A parte negativa é agarrar-se ao ser. É por isso que grandes professores - Buda ou Jalaludin Rumi - insistiam: - "Lembre-se, não-ser, "anatta". Os sufis o chamavam de fana - desaparece-se. E podemos estar preparados para este desaparecimento, podemos estar prontos - não apenas prontos mas muito receptivos. Isso trará grande alegria , porque toda a sua miséria está contida no seu ego. A própria idéia de que "Eu sou" cria todos os tipos de ansiedade e problemas para você. O ego é o inferno.
        Jean Paul Sartre disse: "O inferno são os outros". Isso não é verdade. O inferno é você, o inferno é o ego! Se os outros parecem o inferno, eles parecem o inferno também por causa do ego - porque eles machucam continuamente. Eles vão apertando os seus botões. Porque você tem esta ferida do ego, todos parecem machucar você. É apenas sua a idéia de que 'Eu sou especial' e quando alguém não o reconhece, isso provoca dor. Quando você não tem nenhuma idéia de ser especial - o que o povo zen chama de "tornar-se comum" - se você se torna comum, então este vale pode ser cruzado. Se você se torna ninguém, então este vale pode ser facilmente cruzado.
        Então, a parte negativa é agarrar-se ao ser e a parte positiva é relaxar no não-ser, dentro do nada - estando pronto para morrer, desejosamente, alegremente, voluntariamente.
      

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Os sete vales - Quarto Vale

Então, chega o quarto vale: o vale das tribulações.

A entrada dentro do inconsciente acontece no quarto vale. Até agora você estava confinado no mundo do consciente. Agora, pela primeira vez, você entrará nos mais profundos campos do seu ser, o inconsciente, a parte mais escura, a parte da noite. Até agora, você estava na parte do dia. Era mais fácil. Agora, as coisas se tornarão mais difíceis. Quanto mais alto você vai, mais tem que pagar. Com  cada degrau mais alto, a jornada se torna mais árdua e a queda mais perigosa. E se precisa estar mais alerta. Em cada degrau, mais consciência será necessária, porque você estará se movendo em planos mais altos.
O vale das tribulações é a entrada no inconsciente. É a entrada naquilo que os místicos cristão chamam de "a noite escura da alma". É a entrada dentro do mundo louco que você esconde de você mesmo. É muito misterioso, é muito caprichoso, bizarro. Até o terceiro vale, um homem pode seguir sem um mestre, mas não além do terceiro. Até o terceiro pode se ir por conta própria. No quarto vale um mestre é uma necessidade.
E quando eu digo que se pode ir até o terceiro por conta própria, não quero dizer que se tem que ir e também não quero dizer que todo mundo estará apto a ir. Eu estou simplesmente falando de uma possibilidade teórica. Até o terceiro vale é teoricamente possível que se possa seguir sem um mestre. Mas com o quarto um mestre se torna uma necessidade absoluta. - porque agora você estará tateando num quarto escuro. Você não tem nenhuma luz própria que possa usar nesta escuridão. A luz de alguém será necessária - alguém que entrou dentro desta noite escura e pelo qual se tornou possível ver nessa escuridão.
A parte negativa do vale das tribulações é a dúvida - grande dúvida surge! Você não sabe o que é a dúvida, você não sabe ainda! Tudo o que você pensa que é dúvida não é mais que ceticismo, não é dúvida. A dúvida é um fenômeno completamente diferente.
Alguém diz: "Deus existe!"; você diz: "Eu duvido". Você não duvida. Como você pode duvidar? Você está sendo apenas cético. Você está só dizendo "Eu não sei". Em vez de dizer "eu não sei", você está usando a palavra muito forte "dúvida". Como você pode duvidar? A dúvida é possível quando você está encarando uma realidade.
Por exemplo, você nunca viu um fantasma. E você diz: "Eu duvido da existência de fantasmas". Isto não é dúvida, é apenas ser cético. Você está simplesmente dizendo: "eu nunca cruzei com nenhum, então, como posso acreditar? Eu duvido." Isso não é dúvida. Dúvida será quando, um dia passando pelo cemitério, você de repente cruza com um fantasma! Então todo o seu ser será sacudido. Aí sim você estará em verdadeira dúvida, tentando saber se aquilo que vê é realidade ou alucinação.
A dúvida é muito existencial; o ceticismo é intelectual. O ceticismo está só na mente; a dúvida entra no seu próprio ser, todo o seu corpo-mente-alma. Sua estabilidade é sacudida.
Nessa noite escura da alma, a dúvida surge. Dúvida sobre Deus - por você estava buscando por mais luz e acontece isso, justo o oposto. Você estava procurando por êxtase e caiu na noite escura. Uma grande dúvida surge sobre se você está certo, sobre se esta procura tem valor - porque você buscava ouro, você buscava luz, e iluminação, e nirvana, e samadhi, e satori, e ao invés de satori e samadhi, esta noite escura envolveu você. Mesmo aquelas luzes que costumavam existir não existem mais. Mesmo aquelas certezas que costumavam existir não existem mais.
Você costumava saber algumas coisas; agora você não sabe nada. Você tinha certa segurança. Até isso se foi. A própria terra escorregou sob os seus pés; você está se afogando. Então, a dúvida surge. Aí, você começa a sentir que talvez toda esta imagem religiosa seja insensata, talvez não haja Deus, talvez você esteja se enganando, talvez você tenha escolhido algo absurdo. Seria melhor viver no mundo, ser do mundo. Seria melhor ter muito mais coisas: curtir o poder, o dinheiro, o sexo. O que eu fiz? Eu perdi tudo e este é o resultado?
Para todo buscador este momento chega. E se surge esta dúvida, então, naturalmente, o buscador começa a defender-se contra a escuridão. Cria-se uma armadura em volta de si mesmo contra a escuridão, a escuridão invasora. É preciso proteger-se, se você fizer isso, será jogado de volta a parte consciente da mente. Você perderá o mistério da escuridão. A luz é linda, mas não é comparável com a escuridão. A escuridão é mais linda, mais fria, mais profunda. A escuridão tem profundidade, a luz é rasa. E a menos que você seja capaz de dar as boas vindas a escuridão, você não será capaz de dar as boas vindas a morte.
Então, a primeira coisa é que você tem que dar as boas vindas, aceitar, relaxar. Esta escuridão é o primeiro vislumbre de Deus. É escuro, mas, mais tarde, você compreenderá que não era escuro. É que, na verdade, pela primeira vez você abriu os olhos em direção a Deus e era muito deslumbrante, é por isso que parece escuro. Não era escuro; a escuridão era a sua interpretação.
Olhe para o sol por alguns segundos e logo você estará cercado pela escuridão. É demais, você não pode encará-lo. Um homem pode ficar cego se olhar muito para o sol. Olhe para o sol durante alguns segundos e então entre em casa: você encontrará toda a casa cheia de escuridão. Há um momento, você estava lá e podia ver tudo. Agora, não pode ver nada; você tropeçará nas coisas.
Aquilo que está escuro é interpretação. É natural. Mais tarde, quando ultrapassar o vale, você estará apto para olhar para trás e ver a realidade. Só um mestre pode pegar na sua mão nesta noite escura da alma e torná-lo confiante, pode dizer e convencê-lo: -"Não se preocupe. Apenas parece escuro, não é escuro. É o primeiro encontro com Deus. Você está chegando mais perto."
Há três coisas para serem compreendidas: sono, morte e samadhi.
O sono é como a morte. No oriente, nós dizemos que ele é uma morte pequena, minúscula. Nós morremos toda noite e desaparecemos na noite escura. Então, chega a morte - uma morte muito maior que o sono. O corpo desaparece, mas a mente permanece e nasce novamente. Aí, vem a última morte, a morte definitiva - samadhi - quando o corpo desaparece, a mente desaparece e apenas o mais recôndito cerne, a consciência, permanece. Esta é a morte definitiva.
No quarto vale você se depara com o primeiro vislumbre de como a morte definitiva vai lhe acontecer. Se você a rejeitar, se você defender-se contra ela, se você criar uma armadura, você será jogado de volta ao terceiro vale e você perderá. E uma vez que tenha perdido o quarto, você sempre terá medo de ir novamente através dele.
Minha observação sobre as pessoas é que as que entraram no quarto vale em alguma de suas vidas passadas e ficaram muito amedrontadas e escaparam, são as pessoas que sempre tem medo de alguma coisa mais profunda. Amor - e eles tem medo. Orgasmo - e eles terão medo. Amizade - e assim por diante; além disso, eles terão medo. Discipulado - e eles terão medo. Rendição - e eles terão medo. Prece - e eles terão medo. Eles terão medo de todas aquelas coisas que poderão trazê-los de volta ao quarto vale. Eles podem não estar conscientes do que é que tem medo.
O quarto vale é muito importante porque está no meio. Há sete vales, o quarto está bem no meio. Três estão deste lado e três estão daquele lado. O quarto é imensamente importante; ele é a ponte. O mestre é necessário nesta ponte porque você passa do conhecido para o desconhecido, do finito ao infinito, do insignificante ao profundo.
A parte positiva é a confiança, a rendição. A parte negativa é a dúvida, a defesa. O mestre começa a ensinar você sobre confiança e rendição desde o começo, então, aos poucos, isso se torna a sua atmosfera - porque isso será necessário quando você entrar no quarto vale.
Às vezes, as pessoas vêm a mim e dizem: "Porque não podemos ficar aqui sem rendição? Porque não podemos meditar e ouvi-lo e sermos beneficiados o tanto quanto quisermos? Qual é o objetivo da rendição?"
Elas não compreendem. No começo, pode não parecer tão relevante. Porque? Para que? Você pode me ouvir sem se render e você pode meditar aqui sem rendição. Parece perfeitamente bem. A rendição parece não ser necessária. Mas você não sabe o que vai acontecer no futuro. Para isso, a preparação tem que começar agora mesmo. Você não pode esperar por aquele momento. Se a preparação não for feita antes, você perderá. Então, quando o tempo chegar, quando a sua casa estiver em chamas e você ainda não tiver cavado o poço, você começará a cavá-lo, mas só irá terminá-lo quando a casa já tenha se transformado em cinzas.

É necessário cavar o poço antes da casa pegar fogo! Agora, pode não parecer relevante. Eu posso entender. Logicamente, isso não é relevante neste momento. Ouvindo-me, porque é necessária a rendição? Mas, quando você entrar no quarto vale, a rendição será necessária. E você não pode aprender repentinamente os caminhos da rendição. Você tem que ir aprendendo antes da necessidade surgir. A rendição tem que se tornar a sua atmosfera.

Os sete vales - Terceiro Vale

O terceiro vale...o terceiro vale é chamado de vale das pedras de tropeço.

Uma vez que a consciência tenha surgido, agora você estará apto para ver quantas pedras de tropeço existem. Você terá olhos para ver quantos obstáculos existem. Há paredes sobre paredes. Há portas também, mas são poucas e longe umas das outras. Você estará apto para ver todas as pedras de tropeço.

Al-Ghazzali diz que elas são quatro: em primeiro lugar, o mundo sedutor - o mundo das coisas. Elas são muito fascinantes. A ambição é criada. Porque todas as religiões vem dizendo que é necessário ir além das tentações mundanas? Porque se você está tentado pelas coisas do mundo e você deseja demais coisas mundanas, você não terá energia suficiente para desejar Deus. Seu desejo será perdido em coisas.
Um homem que deseja uma grande casa, uma grande conta bancária, grande poder no mundo e prestígio, põe todo seu desejo, suas energias, no mundo. Nada é deixado para buscar Deus.
As coisas, em si próprias, não são más. Os sufis não são contra as coisas, lembre-se. Os sufis dizem que as coisas são boas em si próprias, mas quem começou a buscar Deus e a verdade definitiva não pode ter recursos para elas. Você tem uma certa qualidade e uma certa quantidade de energia. Toda a energia precisa ser dirigida para um desejo. Todos os desejos têm que se tornar um, só assim se pode chegar a Deus, só assim você pode superar este terceiro vale.
Comumente, nós temos muitos desejos. A pessoa religiosa é aquela que tem um único desejo, em que todos os outros desejos deságuam num único desejo imenso - como pequenos rios que deságuam formando o Ganges. - desse jeito. Uma pessoa religiosa é aquela em que todos os outros desejos se tornaram um: ela deseja apenas Deus, ela deseja apenas transcendência.
Assim, a primeira é o mundo das tentações; a segunda é gente - a fixação, a atração por pessoas.
De novo, lembre-se, os sufis não são contra pessoas, mas dizem que não se pode ficar ligado as pessoas. De outro modo, a própria fixação se transforma num obstáculo, uma pedra no caminho de Deus. Esteja com a sua mulher, com o seu homem, com os seus filhos, com os seus amigos, mas lembre-se que somos todos estranhos aqui e que a nossa proximidade é acidental. Nós somos viajantes e nos encontramos na estrada. Por alguns dias talvez fiquemos juntos - agradeça a isso - mas, cedo ou tarde os caminhos se separam. Sua esposa morre, ela vai no seu próprio caminho e você não sabe aonde. Ou, sua esposa se apaixona por outra pessoa e seus caminhos se separam. Ou você se apaixona por outra pessoa. Ou seu filho cresce e toma a direção da própria vida e se afasta de você - todo filho precisa se mover para longe dos pais.
Nós estamos juntos nesta estrada apenas por uns poucos dias e o nosso estar juntos é acidental. Não há nada eterno. Esteja com as pessoas, seja afetuoso, tenha compaixão com as pessoas, mas não se torne apegado - de outro modo, o apego não lhe permitirá liberdade suficiente para ir além.
Então, o segundo é pessoas, ligações. O terceiro Al-Ghazzali chama satan e o quarto, ego.
Por satan fica entendido que é a mente - a mente que você acumulou no passado. Embora a consciência tenha surgido, embora você tenha se tornado mais consciente do que nunca, o mecanismo da mente ainda existe, a espreita. Ela ainda ficará a espreita por algum tempo. Esteve com você tanto tempo que não pode deixá-lo repentinamente. Leva tempo. E a mente espera e vigia - se alguma oportunidade surgir, ela imediatamente saltará e tomará posse de você. Ela tem sido o seu mestre, você tem atuado como um escravo. A mente não pode aceitar que você tenha se tornado um mestre tão de repente. Leva tempo.
A mente é um mecanismo, existe sempre. Para o buscador, a mente é o demônio. Todas as histórias sobre o demônio não são nada mais que histórias sobre a mente. O demônio - ou satan, como os sufis chamam o demônio - é apenas um nome mitológico para a mente.
Quando o demônio tenta Jesus, você pensa que algum demônio está lá, em algum lugar? Não seja tolo! Não há nenhum demônio do lado de fora. A tentação estava vindo da própria mente de Jesus. A mente diz: "Agora que você se tornou tão miraculosamente poderoso, porque se preocupar com as outras coisas? Porque não ter o reino do mundo todo? Você pode tê-lo! Está dentro dos seus escopos. Voce pode possuir o mundo todo, você tem muito poder. Você está muito alto espiritualmente. Seus siddhis estão quitados. Você pode ter todo o dinheiro e todo o prestígio que quiser. Porque se preocupar com Deus e religião? Use esta oportunidade. A mente está tentando.
E quando Jesus diz: "Não venha em minha direção! Vá embora!" ele não está falando para algum demônio externo. Ele está simplesmente dizendo a mente: "por favor, não se aproxime do meu caminho. Eu não estou mais preocupado com os seus desejos, eu não estou preocupado com os seus projetos eu estou em uma jornada totalmente diferente. Voce não sabe nada a respeito dela, fique quieta!".
E o quarto é o ego - uma das maiores pedras de tropeço no caminho dos buscadores. Quando você se torna um pouco consciente, quando a sua consciência surge, e você começa a ver as pedras de tropeço, um grande ego - não se sabe de onde - de repente, toma posse de você: "eu tornei um santo, um homem muito sábio! Eu não sou mais comum, eu sou extraordinário!" E o problema é que você é extraordinário! É verdade! O ego pode prová-lo. Este é o grande problema, porque o ego não está falando coisas sem sentido. Ele é sensível. É exatamente assim!
Entretanto, é necessário estar alerta, porque se você se atrapalha com o ego, com a idéia de que "Eu sou extraordinário!", então você ficará sempre no terceiro vale. Você nunca será capaz de chegar ao quarto, e o quarto trará mais flores e mais picos, picos mais altos e grandes alegrias - e você perderá.
Este é o lugar onde siddhis - forças espirituais - tornam-se a coisa mais obstaculizante.
A parte negativa é começar a lutar com essas pedras de tropeço. Se começar a lutar, você ficará perdido no vale. Não há necessidade de lutar. Não crie inimizade. Compreender, apenas, é suficiente.
Lutar significa repressão. Você pode reprimir o ego, você pode reprimir a sua ligação com as pessoas, você pode reprimir a sua ambição por coisas, você pode reprimir o seu satan, mas aquilo que for reprimido permanecerá, e você não será capaz de entrar no quarto vale.
Apenas aqueles que não tem repressões entrarão no quarto vale. Então, não comece reprimindo.
A parte positiva é: tome o desafio - que o ego está desafiando você. Não tome isso como uma inimizade, em vez disso, tome-o como um desafio para ir além. Não lute com ele; compreenda-o. Olhe profundamente dentro dele. Olhe para o mecanismo: como ele funciona, como este novo ego está surgindo em você, como a mente continua a jogar com você, como você se torna ligado as pessoas, como você se torna ligado as coisas. Olhe como ele é com fria observação, sem antagonismos. Se você se tornar antagônico, você foi pego. Se você se tornar indulgente, você foi pego. E estas são as duas coisas mais fáceis. As pessoas conhecem apenas duas coisas: ou sabem como se tornaram amigas, ou como se tornaram inimigas. Esta é a única compreensão comum possível.
A terceira coisa ajudará. Seja vigilante, uma testemunha; nem amigo, nem inimigo. Seja indiferente. Apenas perceba que eles existem, porque se tomar qualquer atitude sentimental - contra ou a favor - os sentimentos se transformarão em cadeias. Sentimento quer dizer que você se atou. Lembre-se, você está tão atado aos seus inimigos quanto aos seus amigos. Se seu inimigo morre, você sentirá tanta saudade quanto você sentiria do seu amigo - as vezes até mais, porque ele estava dando algum sentido a sua vida. Lutando com ele você estava curtindo uma viagem. Agora ele não mais existe. O ego que estava sendo preenchido pela luta nunca mais será preenchido novamente. Você terá que encontrar um novo inimigo.
Então, não faça inimigos e não faça amigos. Apenas veja. Seja muito científico no observar. Esta é a coisa positiva a fazer. Explore o que é o ego, e explore alegremente.

sábado, 11 de setembro de 2010

A Cabana


Amigos,
Quero com esta publicação abrir um espaço para mostrar uma compreensão melhor para o Livro A Cabana.
Citarei sempre um texto do livro e tecerei algum comentário. Gostaria que você refletisse sobre o texto e se surgir alguma dúvida me coloco à disposição para esclarecer.

Bilhete :
Mackenzie
Já faz um tempo. Senti sua falta.
Estarei na cabana no fim de semana que vem, se você quiser me encontrar.
Papai
Assim, receber o bilhete assinado Papai, dizendo para encontrá-lo na cabana, causou-lhe um profundo impacto. Será que Deus escreve bilhetes? E por que na cabana - o ícone de sua dor mais profunda? Certamente Deus teria lugares melhores onde se encontrar com ele. Um pensamento sombrio chegou a atravessar sua mente: o assassino o estaria atraindo para longe com a intenção de deixar sua família desprotegida. Talvez fosse somente uma brincadeira cruel. Mas por que estava assinado "Papai"?
Por mais irracional que parecesse, Mack não conseguia deixar de pensar que talvez o bilhete viesse mesmo de Deus. Quanto mais pensava mais confuso e irritado ia ficando.Quem havia mandado a porcaria do bilhete? Fosse quem fosse, Mack tinha a sensação de que estavam brincando com ele. E, de qualquer modo, de que adiantava? Mas, apesar da raiva e da depressão, Mack sabia que precisava de respostas.
Percebeu que estava travado e que as orações e os hinos dos domingos não serviam mais, se é que já haviam servido. A espiritualidade do claustro não parecia mudar nada na vida das pessoas que ele conhecia, a não ser, talvez, na de Nan. Mas ela era especial.
Mack estava farto de Deus e da religião, farto de todos os pequenos clubes sociais religiosos que não pareciam fazer nenhuma diferença expressiva nem provocar qualquer mudança real. Mack certamente desejava mais.Porém não sabia que estava a ponto de conseguir um muito mais do que havia pedido.
Comentário :
Há comunidades evangélicas que tem reconhecido que apesar da grande freqüência nas Igrejas pouco tem conseguido transformar as pessoas. O que Mack está sentindo é o que ocorre com a maioria mas poucos se dão conta.

(Deus/Papai – falando com Mack)
- Se você quiser ir só um pouquinho mais fundo, poderíamos falar sobre a natureza da própria liberdade. Será que liberdade significa que você tem permissão para fazer o que quer? Ou poderíamos falar sobre tudo o que limita a sua liberdade. A herança genética de sua família, seu DNA específico, seu metabolismo, as questões quânticas que acontecem num nível subatômico onde só eu sou a observadora sempre presente. Existem as doenças de sua alma que o inibem e amarram, as influências sociais externas, os hábitos que criaram elos e caminhos sinápticos no seu cérebro. E há os anúncios, as propagandas e os paradigmas. Diante dessa confluência de inibidores multifacetados - ela suspirou -, o que é de fato a liberdade?
Mack ficou ali parado, sem saber o que dizer.
- Só eu posso libertá-lo, Mackenzie, mas a liberdade jamais pode ser forçada.
- Não entendo. Não estou entendendo o que você acaba de dizer.
Ela se virou e sorriu.
- Eu sei. Não falei para que você entendesse agora. Falei para mais tarde. No ponto em que estamos, você ainda não compreende que a liberdade é um processo de crescimento.
- Estendendo gentilmente as mãos sujas de farinha, ela segurou as de Mack e, olhando-o direto nos olhos, continuou: - Mackenzie, a Verdade irá libertá-lo, e a Verdade tem nome. Neste momento ele está na carpintaria, coberto de serragem. Tudo tem a ver com ele. E a liberdade é um processo que acontece dentro de um relacionamento com ele. Então todas essas coisas que você sente borbulhando por dentro vão começar a sair.
Comentário :
Todos os Mestres tem falado a mesma coisa : que não temos liberdade. Dentro de nós tem uma voz que nos conduz como se fosse A Matrix.
Quanto a frase : "...você ainda não compreende que a liberdade é um processo de crescimento."
Realmente precisamos crescer em compreensão para percebermos o que é liberdade.
Quanto ao relacionamento com Jesus(que ele cita), realmente é a única maneira de conseguirmos a liberdade, simbolizando um Mestre que possa nos orientar. Nas Igrejas isto foi considerado como se a salvação só vem por Jesus Cristo. Ela pode vir de diversas maneiras, inclusive como aconteceu com Eckhart Tolle, através de uma crise existencial.

(Deus/Papai – falando com Mack)
- Na cruz? Espere aí, eu pensei que você o tinha abandonado. Você sabe: "Meu Deus,meu Deus, por que me abandonastes?" - Era uma citação das Escrituras que freqüentemente assombrava Mack na Grande Tristeza.
- Você não entendeu o mistério naquilo. Independentemente do que ele sentiu no momento, eu nunca o deixei.
- Como pode dizer isso? Você o abandonou, exatamente como me abandonou!
- Mackenzie, eu nunca o abandonei e nunca deixei você.
- Isso não faz nenhum sentido - reagiu ele rispidamente.
- Sei que não, pelo menos por enquanto. Mas pense nisto: quando tudo que consegue ver é sua dor, talvez você perca a visão de mim, não é?
Quando Mack não respondeu, ela retornou ao trabalho na cozinha, como se quisesse lhe oferecer um pouco de um necessário espaço. Parecia estar preparando vários pratos ao mesmo tempo, acrescentando temperos e ingredientes. Cantarolando uma musiquinha repetitiva, deu os últimos retoques na torta que estava fazendo e enfiou-a no forno.
- Não se esqueça, a história não terminou no sentimento de abandono de Jesus. Ele encontrou a saída para se colocar inteiramente nas minhas mãos. Ah, que momento foi aquele!
Comentário :
Todos os sábios tem dito que o que nos separa de Deus, da verdade, da Paz, é o nosso EGO. Naquele momento supremo em que Jesus como "filho do homem" reclama que Deus o abandonou, de repente ele fica consciente da besteira que está fazendo e diz : Nas tuas mãos entrego meu espírito(EGO). Naquele momento ele torna-se o Cristo(O acordado). Por isto Papai diz : "Ele encontrou a saída para se colocar inteiramente nas minhas mãos. Ah, que momento foi aquele!"

- Eu sei, querido. Por isso estamos aqui. Por que você acha que eu disse que não sou como você?
- Bom, realmente não faço idéia. Quer dizer, você é Deus e eu não sou. - Ele não conseguiu afastar o sarcasmo da voz, mas ela o ignorou completamente.
- É, mas não exatamente. Pelo menos não do modo como você está pensando.
Mackenzie, eu sou o que alguns chamariam de "sagrado e totalmente diferente de você". O problema é que muitas pessoas tentam entender um pouco o que eu sou pensando nomelhor que elas podem ser, projetando isso ao enésimo grau, multiplicando por toda a bondade que são capazes de perceber - que freqüentemente não é muita —, e depois chamam o resultado de Deus. E, embora possa parecer um esforço nobre, a verdade é que fica lamentavelmente distante do que realmente sou. Sou muito mais do que isso,sou acima e além de tudo o que você possa perguntar ou pensar.
Comentário :
Isto que está descrito acima é que todos nós temos feito, e principalmente os religiosos. Deus é indefinível, ilimitado, incognoscível dizem os Mestres. Veja o que Papai diz :" Sou muito mais do que isso, sou acima e além de tudo o que você possa perguntar ou pensar."
E o homem pensa que pode estudar, definir Deus.Como dizem os Mestres nós podemos nos tornar Deus, mas não defini-lo.


- Você está falando de Jesus, não é verdade? Está me lembrando as aulas de catecismo: "Vamos tentar entender a Trindade"?
Ela deu um risinho.
- Mais ou menos, mas aqui não é a escola dominical. É uma aula de vôo. Mackenzie, como você pode imaginar, há algumas vantagens em ser Deus. Por natureza, sou completamente ilimitada, sem amarras. Sempre conheci a plenitude. Minha condição normal de existência é um estado de satisfação perpétua - disse ela, bastante satisfeita. - É apenas uma das vantagens de Eu ser Eu.
Isso fez Mack sorrir. A mulher estava se divertindo muito com ela mesma e não havia um pingo de arrogância para estragar aquilo.
- Nós criamos vocês para compartilhar isso. Mas então Adão optou por ficar sozinho, como sabíamos que iria acontecer, e tudo se estragou.Mas, em vez de varrer toda a Criação, arregaçamos as mangas e entramos no meio da bagunça. Foi o que fizemos em Jesus.
Mack estava parado, esforçando-se ao máximo para acompanhar o fio dos pensamentos dela.
- Quando nós três penetramos na existência humana sob a forma do Filho de Deus, nos tornamos totalmente humanos. Também optamos por abraçar todas as limitações que isso implicava. Mesmo que tenhamos estado sempre presentes nesse universo criado, então nos tornamos carne e sangue. Seria como se este pássaro, cuja natureza é voar, optasse somente por andar e permanecer no chão. Ele não deixa de ser pássaro, mas isso altera significativamente sua experiência de vida.
Ela parou para se certificar de que Mack ainda estava acompanhando seu raciocínio.Embora houvesse uma dor nítida se formando em seu cérebro, ele fez um gesto, convidando-a a continuar.
-Ainda que por natureza Jesus seja totalmente Deus, ele é totalmente humano e vive como tal. Ainda que jamais tenha perdido sua capacidade inata de voar, ele opta,momento a momento, por ficar no chão. Por isso seu nome é Emanuel, Deus conosco, ou Deus com vocês, para ser mais exata.
- Mas... e todos os milagres? As curas? Ressuscitar os mortos? Isso não prova que Jesus era Deus... você sabe, mais do que humano?
- Não, isso prova que Jesus é realmente humano.
- O quê?
- Mackenzie, eu posso voar, mas os humanos, não. Jesus é totalmente humano. Apesar de ele ser também totalmente Deus, nunca aproveitou sua natureza divina para fazer nada. Apenas viveu seu relacionamento comigo do modo como eu desejo que cada ser humano viva. Ele foi simplesmente o primeiro a levar isso até as últimas instâncias: o primeiro a colocar minha vida dentro dele, o primeiro a acreditar no meu amor e na minha bondade, sem considerar aparências ou conseqüências.
- E quando ele curava os cegos?
- Fez isso como um ser humano dependente e limitado que confia na minha vida e no meu poder de trabalhar com ele e através dele. Jesus, como ser humano, não tinha poder para curar ninguém.
Isso foi um choque para as crenças religiosas de Mack.
- Só enquanto ele repousava em seu relacionamento comigo e em nossa comunhão, nossa comum-união, ele se tornava capaz de expressar meu coração e minha vontade em qualquer circunstância determinada.
Assim, quando você olha para Jesus e parece que ele está voando, na verdade ele está... voando. Mas o que você está realmente vendo sou eu, minha vida nele. É assim que ele vive e age como um verdadeiro ser humano, como cada humano está destinado a viver: a partir da minha vida.
Comentário:
Estou me lembrando que existe inúmeros comentários de que este livro é uma ficção. Jesus dizia : Quem tiver olhos para ver, veja. Quem tiver ouvidos para ouvir, ouça. Mas infelizmente mesmo os religiosos não entenderam. Este livro é uma Novo Testamento condensado.
Deus(Papai) diz : "Sempre conheci a plenitude. - Nós criamos vocês para compartilhar isso. Mas então Adão optou por ficar sozinho."
Neste momento com Adão iniciou-se o processo do EGO. Ego no sentido de iludir-se que nós somos alguém. Que podemos viver nossa vida.Distante de Deus.
Na frase : " Ele não deixa de ser pássaro, mas isso altera significativamente sua experiência de vida."
Jesus era um homem como todos nós. Não um Deus como se tem falado. Como ele diz fazia milagres como um ser humano limitado e comum.Isto nos aproxima mais dele ainda. Pois se ele conseguiu viver este relacionamento com Deus nós também podemos.
Na frase : "Ainda que jamais tenha perdido sua capacidade inata de voar, ele opta, momento a momento, por ficar no chão."
Nós também não perdemos nossa capacidade inata de voar, basta fazermos uma conversão, no sentido de ir buscar dentro de si o Deus que aguarda você ansiosamente.
Na frase : "É assim que ele vive e age como um verdadeiro ser humano, como cada humano está destinado a viver: a partir da minha vida."
Os Mestres tem falado muito sobre entrega, abandonar o EGO, aceitação mas nós temos dificuldade de entender isto. Mas é simples; viver sua vida a partir da vida de Deus e aí tudo muda...voce começa a voar. Vamos lembrar a música de Zeca Pagodinho : Deixa a vida(Deus) me levar.

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