segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Osho - Dois pássaros estão numa gaiola


"Jesus disse: 'Dois repousarão numa cama: um morrerá e o outro viverá.'"

                Exatamente as mesmas palavras estão nos Upanishads. Eles dizem que existem dois pássaros numa árvore: um num galho mais baixo e outro pousado num galho mais alto. O pássaro do galho inferior pensa, preocupa-se, deseja, ordena, acumula, luta, compete; está sempre angustiado, tenso, salta de um galho para o outro, movimentando-se  sempre sem nunca repousar.
                O outro está pousado num galho superior, está em repouso. Está tão silencioso que é como se não estivesse lá. Não tem nenhum desejo, nenhum sonho. Não tem necessidades a satisfazer, é como se não tivesse nenhum lugar para ir. Fica simplesmente sentado, alegrando-se consigo mesmo, e observa o pássaro que está no galho inferior.
                Estas são as suas duas dimensões. Você é a árvore. O que está mais baixo está sempre perturbado. O inferior é seu corpo; as necessidades e desejos são corporais. No galho superior, no topo da árvore, pousa o outro pássaro que é o espectador; fica simplesmente olhando para as tolices do pássaro que está embaixo, pulando, movendo-se em angústia, ansiedade, raiva e sexo — tudo acontece a ele.
                Esse pássaro do galho superior é apenas um observador; simplesmente olha aqui e ali como um espectador. Quando a pessoa se esquece de si mesma, completamente, então se torna  uma só — é a árvore.
                Jesus diz a mesma coisa com um símbolo diferente: "Dois repousarão numa cama..." Você é a cama. "Dois repousarão numa cama: um morrerá e o outro viverá." Agora, a questão é a quem se deve dar atenção. Para qual você deve mover-se, para qual toda sua energia deve fluir? Qual deve ser sua meta?
                Normalmente, aquele que vai morrer é a sua meta. É por isso que está sempre ansioso, porque está construindo uma  casa na areia. Ela vai cair — antes mesmo de ser construída, ela cairá e se transformará em ruínas.
                Você tem medo porque está escrevendo seu nome na água — antes de completá-lo, ele já terá ido embora. Sua ansiedade existe porque está interessado no âmbito da morte e não tem olhado na direção da vida. Em cada cama os dois estão dormindo — o outro é apenas um espectador.
Preste mais atenção a ele, volte-se cada vez mais para ele — é isto que significa conversão. Conversão não significa um hindu tornar-se cristão ou um cristão tornar-se hindu. Isto é tolice, uma simples mudança de rótulo. Isso não é mudança, porque o homem interno permanece o mesmo, no velho padrão.
                Conversão quer dizer mudar a atenção do âmbito da morte para o âmbito da vida. Há um giro: você olha para o observador, torna-se um com ele, perde-se dentro dele, dentro da consciência e sabe que aquele que vai morrer morrerá. Mas isto não o perturba, não é o problema — porque você sabe que não morrerá e que não há o que temer.
                "Jesus disse: 'Dois repousarão numa cama: um morrerá e o outro viverá.'"
                E isto cabe a você. Se quiser continuar tendo problemas, nunca dê atenção ao ser interno: se quiser permanecer sempre angustiado, fique na periferia, não olhe para dentro. Mas se quiser repousar, se quiser a paz eterna, se quiser que as portas do céu se abram para você, então olhe para dentro. É difícil — é difícil porque é muito sutil. É possível ver a matéria, mas não o espírito; ele não pode ser visto. É possível ver onde o visível termina, mas não onde o invisível está.
                Então, o que deve ser feito? Permaneça no limite do visível e não olhe para ele; olhe na direção oposta. Gradualmente, o invisível começará a ser sentido. É uma sensação, não um entendimento; não pode ser visto, apenas sentido. É como a brisa: ela vem; você a sente, mas não pode vê-la. É como o céu: está lá, mas você não pode dizer 'onde', não pode localizá-lo, não pode tocá-lo. Está sempre lá, e você está nele, mas não pode tocá-lo.

                Permaneça no limite do visível, olhando na direção oposta. Isso é o que significa meditação. Sempre que puder encontrar um momento de paz, feche os olhos e deixe o corpo, os prazeres corporais e o mundo da morte para trás; deixe tudo: as lojas, o escritório, a esposa, os filhos.
                Na primeira vez, não sentirá nada por dentro. Hume disse: "Muitas pessoas têm falado a respeito de ir para dentro e ver. Mas sempre que olho não encontro nada — só pensamentos, desejos, sonhos, flutuando aqui e ali — um caos." Você também sentirá a mesma coisa. E se concluir que não vale a pena olhar outra e outra vez esse caos, então sairá perdendo.
                No começo, só verá o caos, porque seus olhos só podem ver isso — eles precisam ser afinados. Continue olhando para os sonhos flutuantes. Eles voam como as nuvens no céu; entre dois sonhos, nuvens, algumas vezes você verá o azul do céu; entre dois sonhos, dois pensamentos, algumas vezes verá o céu. Não tenha pressa. Se tiver, não conseguirá nada.
                Existe um ditado zen: "Corra vagarosamente." Isso está certo! Corra!Porque você está morrendo — nesse sentido, existe pressa. Mas por dentro, se tiver muita pressa, perderá, porque chegará às conclusões cedo demais, antes que seus olhos tenham se acostumado. Não conclua cedo demais.
                Corra vagarosamente. Espere! Vá, sente-se, e espere. Aos poucos, o mundo novo do invisível tornar-se-á claro, chegará até você. Ao se acostumar com ele, poderá ouvir a harmonia, a melodia; o silêncio dará início à sua própria música. Ela está sempre aí, mas é tão silenciosa que são necessários ouvidos muito treinados para ouvi-la.
                Não é como um ruído, é como o silêncio. O som interior é silencioso; a forma interior não tem forma. Não tem tempo nem espaço e tudo o que você conhece está no espaço ou no tempo, e atualmente os físicos dizem que essas duas coisas, na realidade, não são duas: o tempo é apenas a quarta dimensão do espaço.
                Você só conhece tempo e espaço; o mundo das coisas e dos eventos. Não conhece o mundo da auto-observação. Está além de ambos, não está confinado a nenhum espaço ou tempo. A duração existe, mas sem tempo; o espaço existe, mas sem altura, largura ou volume — é um mundo totalmente diferente.
                Será preciso acostumar-se com ele, portanto não se impaciente — impaciência é a maior barreira. Percebi que quando as pessoas começam a trabalhar em direção ao ser interno, a maior barreira é a impaciência. É necessária uma paciência infinita. Pode acontecer no momento seguinte, mas a paciência infinita é necessária.
                Se você for impaciente, talvez não aconteça durante vidas, porque a própria impaciência não lhe permitirá o repouso, a tranquilidade da qual Jesus fala. Até mesmo uma pequena expectativa será um distúrbio. Se estiver pensando que alguma coisa irá acontecer, alguma coisa extraordinária, então nada acontecerá. Se estiver esperando que a iluminação aconteça, perderá. Não tenha expectativas! Todas elas pertencem ao mundo da morte, à dimensão do tempo e do espaço.
                Nenhuma meta pertence ao interior. Não há outro meio para isso, a não ser esperar, com uma paciência infinita. Jesus disse: "Observe e tenha paciência." E um dia, de repente, estará iluminado. Um dia, quando a afinação certa acontecer, quando estiver pronto, de repente, estará iluminado. Toda a escuridão desaparecerá e você estará repleto de vida, de vida eterna, a qual nunca morrerá.

Osho, em "A Semente de Mostarda"

2 comentários:

Champa disse...

Sem espectativas,sem pressa, apenas observando!

Sw Anand Avikal disse...

Yes !!!

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