quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Anand Avikal - A primeira experiência de Não-Mente


No ano de 2000, trabalhava com um Caminhão Mercedez Benz, modelo 1618, trucado.

Estava trafegando pela Estrada que liga São Paulo a Belo Horizonte, quando num trecho da pista estavam realizando consertos numa faixa, já que a pista tem faixa dupla.

Avistei ao longe a sinalização e como era numa descida fiquei mais atento, mas, permaneci em torno de 80 km/h.

 

Na minha frente estava um Gol Branco que foi reduzindo a velocidade além daquilo que estamos acostumados.

O Normal seria passar na parte mais baixa da pista em torno de 60 km/h, mas o Gol chegou a uns 30 km/h, a distancia encurtou tanto que percebi que não iria conseguir parar devido as 30 toneladas que estava carregando.

 

Quando senti que não ia conseguir frear e me aproximei demais do carro, senti que ia passar por cima do Gol, nisto ele entra para direita e pega uma marginal.

Aquilo me deu tanta raiva, que fiquei possesso. Olhava para o Gol Branco que estava ao meu lado na marginal e a raiva crescia cada vez mais. Não conseguia entender como um motorista podia fazer aquilo numa pista, onde andamos em velocidade alta.

 

De repente, dei um tapa na minha "cara", e disse: “acorda Avikal”.

Nisto, houve uma grande transformação dentro de mim, e havia pensamentos referente ao absurdo que o "cara" tinha feito, mas, não havia qualquer sensação interna, era uma Paz, um Silencio.

Percebi então que a partir dali eu não precisava fazer mais nada contra os problemas, mas, simplesmente, sair da mente.

Depois que tudo passou, procurei refletir sobre o que aconteceu:

Estava na mente, completamente identificado, e quando dei o tapa no rosto, eu acordei, ou seja, quebrou a identificação com a mente. Ela estava ali, pensando, mas Eu era apenas um Observador.

A partir daquele dia, todo meu empenho é sair da mente. E sair da mente, não é justificar-se, acalmar-se, ser racional. Tudo isto ainda é mente. Sair da mente é estar olhando para o que está acontecendo, sem que aquilo promova qualquer onda dentro de voce.Isto não é uma coisa que você faz, é uma coisa que acontece.

Não quer dizer, que fiquei fora da mente definitivamente, mas, a partir  daquele dia, Eu sei o que estar na mente, e o que é estar fora da mente.

Desta forma, Meu Mestre neste dia foi um motorista inexperiente, que através de um erro da pilotagem me deu oportunidade de descobrir uma das coisas mais importante da minha vida.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Mooji - Quando a verdade acontece...

Mooji - O último apelo da mente.

Mooji - Descobrindo a Verdade !!!

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Anand Avikal - Um dos meus Mestres também foi um cão.

Postei um vídeo anterior a este que conta a história de Shibli quando observava um cachorro com sêde à beira de um rio.
http://blogdoavikal.blogspot.com/search/label/Videos%20Osho


Quero contar minha experiência com um cão também:

No ano de 2000, morei em Jarinú,próximo da cidade de Jundiaí - SP.
Estava dirigindo um caminhão Mercedez Benz, modêlo truck, vindo da pista que vem de Itú.
Tinha que atravessar uma ponte que passa por cima da Via Anhanguera para chegar à Jundiaí.
Há uma subida ingreme e portanto uma descida ingreme. Um caminhão com 30 toneladas deve fazer este percurso devagar.Em torno de 30kms/h.

Quando inicei a descida observei ao longe dois cães, sendo um na frente e outro logo atrás, muito voraz latindo e atacando o da frente.Os dois estavam correndo em disparada.
Deu para observar que eles eram grandes.O cão que estava perseguindo, provavelmente se sentindo o vitorioso, pois o cão da frente apesar de grande, estava desesperado para fugir.

Eles vinham da minha direita para esquerda. Atravessaram na frente do caminhão e pude observá-los atingindo a outra via(a pista é dupla).

Entretanto o cão que estava fugindo atravessou a outra via à minha esquerda sem problemas, mas na hora que o brutamontes(cão feroz) foi atravessar, vinha um carro Monza que o acertou em cheio, e pude ver ele cair morto no mesmo instante.

Aquela cena me remeteu à minha PREPOTÊNCIA. Eu sempre me sentia como aquele cão. Totalmente prepotente(EGO) e pude VER naquela cena o quanto Eu sou vulnerável. Impotente. Frágil.

Vou deixar claro que foi um VER tudo isto.Não foi uma elaboração mental. Um INSIGHT que modificou minha vida a partir daquele momento.

Aquilo foi tão forte que chorei convulsivamente.Tive que dirigir até minha casa em baixa velocidade pois aquilo permaneceu durante uns quinze minutos.

Portanto, sou Díscipulo de Osho, mas dois cães foram meus Mestres naquele momento.

Osho - Do livro "Antes que você morra".

Eckhart Tolle - O poder do silêncio

A calma é a nossa natureza essencial.
O que é a calma? É o espaço interior ou a consciência onde as palavras aqui escritas são assimiladas e se transformam em pensamentos. Sem essa consciência, não haveria percepção, não haveria pensamentos nem mundo. Você é essa consciência em forma de pessoa.

Quando você perde contato com sua calma interior, você perde contato com você mesmo. Quando perde esse contato, você fica perdido no mundo. Sua mais íntima noção de si mesmo, de quem você é, não pode ser separada da calma. Ela é o EU SOU, mais profundo do que seu nome e da sua forma externa.

O equivalente ao barulho externo é o barulho interno do pensamento. O equivalente ao silêncio externo é a calma interior. Sempre que houver silêncio à sua volta, ouça-o. Isso significa: apenas perceba-o. Preste atenção nele. Ouvir o silêncio desperta a dimensão de calma que já existe dentro de você, porque é só através da calma que você pode perceber o silêncio. Note que, quando você percebe o silêncio à sua volta, você não está pensando. Você está consciente do silêncio, mas não está pensando.

Quando você percebe o silêncio, instala-se imediatamente uma calma alerta no seu interior. Você está presente.Nesses momentos você se liberta de milhares de anos de condicionamento humano coletivo.

Olhe para uma árvore, uma flor, uma planta. Deixe sua atenção repousar nelas. Note como estão calmas, profundamente enraizadas no Ser. Deixe que a natureza lhe ensine o que é a calma.

Quando você olha para uma árvore e percebe a calma da árvore, você também se acalma. Você se conecta à árvore num nível muito profundo. Você sente uma unidade com tudo o que percebe na calma e através dela. Sentir a sua unidade com todas as coisas é amor.

O silêncio ajuda, mas você não precisa dele para encontrar a calma. Mesmo se houver barulho por perto, você pode perceber a calma por baixo do ruído, do espaço em que surge o ruído. Esse é o espaço interior da percepção pura, da própria consciência. Você pode se dar conta dessa percepção como um pano de fundo para tudo o que seus sentidos apreendem, para todos os seus pensamentos. Dar-se conta da percepção é o início da calma interior.

Qualquer barulho perturbador pode ser tão útil quanto o silêncio. De que forma? Abolindo a sua resistência interior ao barulho, deixando-o ser como ele é. Essa aceitação também leva você ao reino da paz interior que é a calma. Sempre que você aceitar profundamente o momento como ele é - qualquer que seja a sua forma - você experimenta a calma e fica em paz.

Preste atenção nos intervalos - o intervalo entre dois pensamentos, o curto e silencioso espaço entre as palavras e frases numa conversa, entre as notas de um piano ou de uma flauta ou o intervalo entre a inspiração e a expiração. Quando você presta atenção nesses intervalos, a percepção de "alguma coisa" se torna apenas percepção. Dentro de você surge a pura consciência desprovida de qualquer forma. Você deixa então de identificar-se com a forma.

A verdadeira inteligência atua silenciosamente. A calma é o lugar onde a criatividade e a solução dos problemas são encontradas.

Será que a calma e o silêncio são apenas a ausência de barulho e de conteúdo? Não, a calma e o silêncio são a própria inteligência, a consciência básica da qual provêm todas as formas de vida. A forma de vida que você pensa que é, vem dessa consciência e é sustentada por ela. Essa consciência é a essência das galáxias mais complexas e das folhas mais simples. É a essência de todas as flores, árvores, pássaros e demais formas de vida.

A calma é a única coisa no mundo que não tem forma. Na verdade, ela não é uma coisa nem pertence a este mundo.
Quando você olha num estado de calma para uma árvore ou uma pessoa, quem está olhando? É algo mais profundo do que você. A consciência está olhando para a sua própria criação. A Bíblia diz que Deus criou o mundo e viu que era bom. É isso que você vê quando olha num estado de calma, sem pensar em nada.

Você precisa saber mais coisas do que já sabe? Você acha que o mundo será salvo se tiver mais informações, se os computadores se tornarem mais rápidos ou se forem feitas mais análises intelectuais e científicas? O que a humanidade precisa hoje é de mais sabedoria para viver.

Mas o que é sabedoria e onde ela pode ser encontrada? A sabedoria vem da capacidade de manter a calma e o silêncio interior. Apenas veja e ouça. Não é preciso nada além disso. Manter a calma, olhando e ouvindo, ativa a inteligência que existe dentro de você. Deixe que a calma interior oriente suas palavras e ações.

A maioria das pessoas passa a vida toda aprisionada nos limites dos próprios pensamentos. Nunca vai além das estreitas idéias já feitas, do sentido do "eu" condicionado ao passado.

Em você, como em cada ser humano, existe uma dimensão de consciência bem mais profunda do que o pensamento. É a essência de quem você é. Podemos chamá-la de presença, de percepção, de consciência livre de condicionamentos. Nos antigos ensinamentos religiosos, essa consciência é o Cristo interior ou a sua natureza búdica.

Descobrir essa dimensão liberta você do sofrimento que causa a si mesmo e aos outros, quando você conhece apenas esse pequeno "eu" condicionado e deixa que ele conduza sua vida. O amor, a alegria, a criatividade e a verdadeira paz interior só podem entrar em sua vida quando você atinge essa dimensão de consciência livre de condicionamentos.

Se você reconhecer, mesmo esporadicamente, que os pensamentos que passam por sua cabeça são meros pensamentos; se você consegue se dar conta dos padrões que se repetem em suas reações mentais e emocionais, é sinal de que essa dimensão de consciência está emergindo. Ela é o espaço interno em que o conteúdo de sua vida se desdobra.

A corrente do pensamento tem uma enorme força que pode muito facilmente levar você de roldão. Cada pensamento tem a pretenção de ser extremamente importante. Cada pensamento quer sugar sua completa atenção.

Eis um novo exercício espiritual para você praticar: não leve seus pensamentos muito a sério!

Com muita facilidade as pessoas ficam aprisionadas nas armadilhas de seus próprios pensamentos!

Como a mente humana tem um imenso desejo de saber, de compreender e de controlar, ela confunde opiniões e pontos de vista com a verdade. A mente afirma: "as coisas são exatamente assim". Você precisa ir além dos seus pensamentos para perceber que, ao interpretar a "sua vida" ou a vida e o comportamento dos outros, ao julgar qualquer situação, você está expressando apenas um ponto de vista entre muitos possíveis. Suas opiniões e pontos de vista não passam de um punhado de pensamentos. Mas a realidade é outra coisa. Ela é um todo unificado em que todas as coisas se interligam e nada existe em si e por si. Pensar fragmenta a realidade, cortando-a em pequenos pedaços, em pequenos conceitos.

A mente pensante é uma ferramenta útil e poderosa, mas torna-se muito limitadora quando invade completamente a sua vida, impedindo você de perceber que a mente é apenas um pequeno aspecto da consciência que você é.

A sabedoria não é um produto do pensamento. A sabedoria é um profundo conhecimento que vem do simples ato de dar total atenção a alguém ou a alguma coisa. A atenção é a inteligência primordial, a própria consciência. Ela dissolve as barreiras criadas pelo pensamento, levando-nos a reconhecer que nada existe em si e por si. A inteligência une a pessoa que percebe ao objeto percebido, num campo unificado de percepção. É a atenção que cura a separação.

sábado, 20 de novembro de 2010

Satyaprem - O que é Satsang ?

"Satsang" é uma palavra que vem do sânscrito.
SAT significa Verdade e SANG significa encontro, comunhão.
Podemos dizer, portanto, que Satsang é comungar a Verdade.

Trata-se de um ato religioso - mas não ritualístico -
estamos falando do Original.
A Verdade comunga com ela mesma e deixa transparecer,
de antemão, que você não é aquilo que estava pensando que era.
Essa é a máxima que Satsang nos trás.

É como uma brincadeira de esconde-esconde.
Eu proponho que você é a Verdade e você propõe que é esse corpo e essa mente.
Vejamos o que fica.
Sem sustentar o que pensa, você se entrega à verdade.
Se mantendo convicto das crenças a respeito de si e do mundo,
se entrega àquilo que pensa que é, à herança imposta pela sociedade,
pelos seus pais, pela sua escola... pelo mundo, enfim.

Em Satsang, a brincadeira é encontrar a Verdade,
além de tudo que você imaginava até hoje.
E o mais divertido é que é muito mais simples do que você imagina.
Na verdade, você já está comungando a Verdade,
apenas não está consciente disso.

O nosso propósito, portanto, é uma mudança de percepção.
Vamos mudar a percepção do objeto percebido e notar
que aquele que percebe permanece o mesmo.
O objeto percebido é que muda.Um esforço mínimo é necessário.
Apenas um entendimento precisa ocorrer.
Relaxe e ouça. Algumas vezes pode vir a parecer absurdo
o que a Verdade revela,mas é de muito bom tom que você assuma
que a sua "estrutura pensamental" está sendo ferida
e vá em frente, investigue.

Satsang colapsa tudo aquilo que você imagina.
Estamos diante do colapso do imaginado e do aparecimento do real.
A isso chamamos de "acordar". E essa não é uma experiência.
Vou repetir: não é uma experiência.
Seria fácil propor mais uma experiência de bem-estar,
mas esta seria apenas mais uma experiência de bem-estar, que estaria fadada a terminar em algum momento.

Tudo o que começa, termina.
Estamos aqui para olhar para uma outra coisa: aquilo que não começa nem termina
e que, portanto, não é uma experiência.
É uma não-experiência. Gosto de chamar de "experiência zero".
Tudo que é experimentado é experimentado no tempo.
Satsang é um retorno ao Original,
um retorno àquilo que você sempre foi, é e será,
sem que se mova de onde se encontra.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Satyaprem - Acordar é a revelação de que não tem você

Quando se dá conta de que o “ver” é impessoal,
você começa a perceber que o que acontece com o corpo,
na vida, no dia-a-dia,
é realmente uma expressão daquilo que você é.

A partir daí, se torna muito mais importante esse “ver”,
do que, necessariamente qualquer “fazer”.
O que quer que seja que você faça,
é decorrência de uma série de circunstâncias,
e nunca sabemos, de ante-mão, o que são.

No entanto “ver” é absoluto.
Diante do absoluto, procuramos a entidade "eu"
que pensamos ser e não encontramos nada.
No lugar da entidade há algo totalmente pacífico,
silencioso e impessoal - e Isso é você.

Acordar é ver.
Praticamente nada precisa acontecer.
Porque acordar não é algo que acontece para alguém.
Acordar é a revelação de que não tem ninguém.
Logo, não acontece para alguém. Acontece para ninguém.
E, na verdade, não acontece. Não é um acontecimento.

Normalmente as pessoas, e talvez você também,
procuram por um acontecimento.
É habitual.
Nós estamos completamente acostumados a acontecimentos,
o tempo todo precisamos de registros.
Registramos o nosso nascimento, a Primeira Comunhão,
a entrada na escola, a saída da escola, o noivado,
o casamento, a separação... tudo precisa ser registrado.
Porque se não houver registro, fica óbvio que a entidade falsa não existe.
Inclusive, ela só existe porque tem registro,
porque tem uma história para contar.

Já o que eu quero chamar a sua atenção para,
é algo que não precisa de registro para ser,
e tão pouco se importa com os registros.
Na verdade, as coisas acontecem nisso que você é.
Elas não acontecem para justificar o que você é.
As coisas acontecem e desacontecem nisso,
e isso não acontece.
Isso não desacontece, tampouco.

Do que estamos falando?
Não é do seu corpo, porque o seu corpo está acontecendo nisso.
Não é da sua mente, porque a sua mente está acontecendo nisso.
Não é a respeito dos seus sentimentos e sensações,
porque ambos estão acontecendo nisso.
Tudo, absolutamente tudo o que acontece, acontece nisso.
E isso não acontece em lugar nenhum.
Você é um não-acontecimento.

domingo, 31 de outubro de 2010

Osho - A única barreira para o autoconhecimento


      O sufismo é uma alquimia, a ciência da alma interna. Ele é uma experimentação em consciência. Somente o resultado define se o que você estava fazendo era certo ou errado. Não existe outra maneira de definir isto.
      As filosofias continuam dando voltas em círculos, elas nunca levam você a lugar algum. O sufismo está cansado de filosofias. Na verdade, todos os grandes místicos estão cansados de filosofias. É por causa do lamaçal das filosofias e suas confusões que as pessoas estão impedidas de conhecer aquilo que lhes é direito conhecer. Você não perde Deus por causa de seus pecados, mas sim devido ao que você chama de conhecimento.
      O sufismo é uma experimentação para uma certa experiência. Ele não é um caminho de crença, mas de conhecer, de experienciar. Ele é existencial. Experiência de que? Experiência de si mesmo. Ele não é especulação por especulação. Ele tem uma metodologia que resulta na mais sublime de todas as experiências – chame isso de Deus, Nirvana, moksha, liberação, ou o que você quiser. É a experiência mais sublime de todas. É a maior experiência na vida. E sem esta experiência, ninguém jamais sente qualquer contentamento, não consegue sentir. O significado de estarmos aqui é para alcançarmos esta experiência. Este é o nosso potencial, ele tem que se tornar real. Esta é a nossa semente: ela tem que desabrochar em todas as cores e fragrâncias. E a não ser que a semente se torne uma flor, nós permaneceremos na dificuldade, no desconforto, ansiando por alguma coisa sem saber exatamente o que é. Procurando, tateando no escuro...
      O homem permanece procurando, tateando no escuro. E a procura só termina com Deus e nunca de outra maneira. O que é Deus? A experiência do seu próprio centro interior. Deus não está lá. Deus está aqui, dentro do seu coração, pulsando, respirando, consciente. Deus está muito perto.
      Ramana Maharshi diz: Autoconhecimento é uma coisa fácil, a coisa mais fácil que existe. Porque ele está tão próximo! Ele já está aí, ele sempre esteve aí. Basta uma olhada, basta ligar, e você já não será mais um pedinte, terá alcançado a qualidade de imperador, e você será empossado, será coroado, e se tornará um rei. Basta uma olhada para dentro... Mas isto é o que os Sufis dizem. Ramana é um Sufi.
      Eu estou usando a palavra ‘Sufi’ no significado mais amplo da palavra. (Neste sentido,) Buda é um Sufi, Jesus é um Sufi, Ramana é um Sufi. Por ‘Sufi’ eu quero dizer aquele que está enfastiado de filosofias e que começou a procurar por aquilo que é verdadeiro, aquele que não mais se satisfaz com alimento sintético e está à procura de nutrição verdadeira.
      Ramana diz: Autoconhecimento é uma coisa tão fácil quanto qualquer outra coisa fácil que exista. Mas, exatamente o oposto disso está nesta frase de Emanuel Kant, um grande filósofo: ‘A metafísica é um chamado à razão para empreender novamente a mais difícil de todas as tarefas que é o autoconhecimento.’
      A filosofia torna isto difícil, muito difícil, quase impossível – porque a filosofia se movimenta cada vez mais distante, bem longe disto. Saber a respeito do Ser não é conhecê-lo; saber a respeito de Deus não é conhecer Deus – como pode o ‘a respeito de’ ser aquilo. A respeito, a respeito... Você segue em círculos. Isto se torna impossível.
      Quanto mais você se torna esperto, ardiloso, calculista, a respeito do a respeito, você será levado a se perder. Não é uma questão de saber a respeito do Ser; é simplesmente uma questão de conhecê-lo, estar consciente, não é uma questão de se pensar a respeito dele, mas de estar centrado nele. Sentando-se silenciosamente nele, ele é revelado.
      Ramana está certo, ele tem que estar certo, pois ele conhece. Emanuel Kant não está certo, ele não pode estar certo, pois ele nunca conheceu o Ser. Embora ele tenha tentado e trabalhado arduamente – ele foi um dos intelectos mais aguçados que existiu. Sua perspicácia não pode ser colocada em dúvida. Sua lógica era perfeita. Mas, no que se refere a seus insights, ele era cego.
      É como um homem cego pensando a respeito da luz – é certo que será impossível. Como pode um cego pensar a respeito da luz? (...)
      Os Sufis acreditam no ver. Ver é fácil; pensar é difícil. Se você tiver ouvidos, saberá o que é música, mas se não tiver ouvidos, como poderá pensar a respeito de música? De que maneira? É impossível. Não existe maneira de comunicar a você o que é música. Se você tem olhos, você conhece as cores e a beleza de um arco-iris. Mas se você não tiver olhos, nem mesmo o maior dos poetas poderá lhe dar uma idéia do que é um arco-iris, é impossível.
      Os Sufis não acreditam no pensar: eles acreditam no ver.
      Você deve ter ouvido o famoso ditado: ver é crer. É exatamente isto o que os Sufis dizem: ver é crer.
      Um famoso ditado Sufi diz: aquele que conhece os outros, é erudito; aquele que conhece a si é sábio. Ser erudito é fácil, para ser sábio tem que ter vísceras, coragem. Por que? Por que no mundo é preciso ser corajoso para conhecer a si? Existem razões. 

      A primeira razão é: existe um medo de que se você mergulhar em si mesmo, poderá não encontrar alguém lá...E de certa maneira este medo está certo. Você não vai mesmo encontrar alguém lá. Esta apreensão está certa.
      Se o Naresh entrar em si, não vai encontrar o Naresh lá. Se a Astha entrar em si, ela não vai encontrar Astha lá. O mesmo com a Sudha e com o Viyogi. Alguma coisa vai ser encontrada lá, mas é algo que não se define, é algo que não se expressa em palavras. E este algo não é sua posse; este algo é tanto seu quanto é de todo mundo.
      Você encontrará algo, mas será o centro universal. Você não encontrará qualquer indivíduo lá, nenhum ego será encontrado. Por isto, o medo. Você irá desaparecer. No autoconhecimento você irá desaparecer completamente. Por isto as pessoas conversam a respeito dele, perguntam a respeito dele,  lêem  livros a respeito, mas nunca entram. Um medo inconsciente impede seu caminho.
      E o homem moderno particularmente tem muito mais medo. O homem moderno é freqüentemente levado ao desespero porque ele tem medo de que o Ser não exista em definitivo ou que ele seja uma máquina nazista, um robot Skineriano, uma barata Kafkiana, um rinoceronte de Ionesco ou uma paixão inútil Sartreana. Todos esses medos explodiram na mente moderna.
      Quem sabe? Quando você mergulhar em si, poderá encontrar a barata Kafkiana. Existe uma parábola de Kafka:
      Certa manhã ele acordou e descobriu que era uma barata. Deve ser um sonho, ele deve ter acordado dentro de um sonho. E não era apenas isto, a barata estava de pernas para o ar, e ele conseguia ver aquelas pernas se movendo no ar, e ele não conseguia se virar para posição certa, ele estava de costas. E você pode imaginar... a miséria do homem, a agonia e a náusea. E ele tentava arduamente, mas parece que não havia jeito de se virar. Uma grande barata ocupando toda a cama.
      O homem moderno tem ainda mais medo. Quem sabe no que você vai tropeçar quando mergulhar em si? Pesadelos, monstros... Quem sabe o que está lá dentro? Por que abrir a caixa de Pandora? Mantenha-a firmemente fechada e sente-se em cima. Isto é o que todo mundo está fazendo. E, sob certo sentido, o medo está certo – mas somente sob certo sentido.
      No começo você encontrará baratas, rinocerontes, répteis e todo tipo de coisas horríveis – porque estas são as coisas que você esteve reprimindo em si mesmo, estas são as coisas que você não permitiu. Você reprimiu a raiva, o ciúme, a possessividade, o ódio. Você reprimiu a violência e o assassinato. Todas estas coisas estão ali. Esta é a barata que está dentro de você. A violência tornou-se uma perna, a possessividade tornou-se outra e o ciúme uma outra mais...
      Quando mergulhar dentro de si, você terá que encarar tudo isto. Naturalmente, esta não é a história toda. Se você puder encarar a barata, se você puder ir cada vez mais fundo, sem qualquer medo, e observar tudo o que estiver acontecendo, e lembrando-se que ‘eu sou apenas um observador, uma testemunha a tudo isto. Eu não posso ser a barata porque eu posso ver...’ o que você consegue ver não é você.
      Guarde isto como uma chave, uma lembrança constante: tudo o que você vê, não é você. Você vê a raiva? Então você não é ela. Você vê a fome? Então você não é ela. Você vê a sexualidade? Então você não é ela. Você é aquele que testemunha tudo isto. Lembre-se da testemunha e, pouco a pouco, todas as baratas desaparecerão, assim como todos os rinocerontes e tudo o mais que é feio.
      O testemunhar é um fenômeno tamanho que dissolve tudo que é feio. Pouco a pouco, somente a testemunha permanece. Mas esta testemunha não será você; ela é Deus. Esta testemunha não pode ser confinada em um Eu – ela é puro ser.
      Há poucos dias eu lhes disse que existem duas inscrições gravadas no templo de Apolo em Delfos: ‘Conheça-te a ti mesmo’ e ‘Nada em excesso’. Há uma relação entre estas admoestações.  O homem era aconselhado a conhecer a si mesmo, e no seu conhecer ele deveria evitar extremos. Quais são os extremos?
      Dois são os extremos: o inferno e o céu, as baratas feias e as lindas borboletas. Você tem que permanecer uma testemunha de ambas. Você não é nem a barata nem a borboleta com cores psicodélicas. Nem isto nem aquilo – neti neti. Você é apenas o observador, o espelho que reflete a barata e que reflete a borboleta.
      De acordo com os sacerdotes de Delfos, um extremo era a tentativa de ir além de sua finitude, agir como se fosse infinito. Isto acontece. Se você for para dentro, ou começa a sentir que é alguma coisa como uma criatura do inferno, ou começa a sentir que você é um anjo, uma criatura celestial. Mas em ambos os casos você novamente criou um ego. Evite os extremos, porque o ego consegue existir apenas com os extremos. Ele morre no meio. O meio dourado é a sepultura do ego.
    Os gregos costumavam chamar estes extermos de hybris. Este termo designava os extremos e quer dizer: uma afronta contra a natureza das coisas. Não comece a pensar que você é celestial, que você é um mensageiro de Deus, que você foi especialmente enviado ao mundo para entregar a última mensagem, que você é o filho de Deus, que você é o único mensageiro, o único verdadeiro, o único Mestre, o único Mestre perfeito... Evite estas tolices. Deus vem através de muitos caminhos, e suas mensagens continuam filtrando no mundo. Não apenas através de Jesus, Buda e Maomé. Mesmo quando um cuco canta, ele é a mensagem de Deus. E Jesus não é o único filho de Deus, caso contrário, todo o resto do mundo seria órfão.
      Cada árvore, cada animal, cada pássaro é tão filho de Deus quanto qualquer um outro. Não que somente Maomé seja o profeta – os rios e as montanhas, todos eles são seus mensageiros e seus profetas. Sua mensagem continua sendo derramada em todos os lugares, em todos os nichos, em todos os cantos. Assim, não entre nessa idéia, senão o ego entrará por detrás da porta, e irá criar problemas para você novamente. E você terá perdido o autoconhecimento.
      Os gregos têm uma palavra especial para isto – eles chamam isto de hybris. O outro extremo é a tentativa de agir como se o indivíduo não fosse um membro da sociedade, tornando-se um monge, entrando na solitude. Você é parte da sociedade, você nasceu na sociedade, você vive em sociedade. A consciência social é como um oceano para você – você é um peixe neste oceano. Você não consegue viver sem ele. E aqueles que tentam viver sem a sociedade quase sempre se tornam pervertidos. Sim, de vez em quando é bom descansar por uns dias num retiro nas montanhas, só para um descanso, mas você tem que voltar para o mundo. Sim, é bom meditar por algumas horas, mas depois você tem que voltar para o mundo. Não se torne um monge. Não comece a pensar que você está separado, porque o autoconhecimento não pode ser alcançado na separação. Ele é alcançado na união.
      E a união mais íntima possível é com outra pessoa. Como você pode estar em comunhão com as árvores se você não consegue estar em comunhão com pessoas? Como você pode estar em comunhão com as pedras se você não consegue estar em comunhão nem mesmo com seu amado ou sua amada? Isto é absurdo! Toda esta idéia é absurda. Um homem está dizendo, ‘Eu estou deixando minha esposa e minhas crianças porque elas são uma prisão para mim e eu estou indo para as montanhas, para estar em comunhão com as montanhas.’ O que ele está falando é besteira. Não será possível para ele estar em comunhão com as montanhas, pois elas falam uma linguagem, totalmente diferente. Elas estão muito atrás da consciência humana. Para se relacionar com elas você terá que se tornar uma montanha – somente então você conseguirá se relacionar.
      Se você não consegue se relacionar com seres humanos que são tão evoluídos como você, que pertencem ao mesmo mundo de linguagem, que pertencem ao mesmo nível de vida, você não conseguirá se relacionar com ninguém mais, em lugar algum. Não seja tolo.

      Os gregos foram muito específicos a respeito destes dois extremos. Aquele que vivia fora da sociedade era chamado de um ser privado. Eles tinham uma palavra bonita para isto, eles chamavam a pessoa de idios. É desta palavra que surgiu ‘idiota’. Idios era o nome para tal ser. Se você fosse de verdade para fora da sociedade, então se tornaria um idiota. Esta é a minha observação.
      Eu tenho visto pessoas vivendo anos e anos nas montanhas e elas se tornam idiotas. Elas têm que se tornar idiotas, pois lá não há qualquer desafio, nenhum ser humano para provocá-las, nenhum desafio humano para aguçar suas inteligências. É muito provável que elas se tornem idiotas. O crescimento não é possível lá.
      Elas podem viver num silêncio, mas o silêncio será das montanhas, não é uma realização delas. A não ser que você consiga viver o silêncio na praça do mercado, ele não será uma realização sua. Ao retornar do Himalaia você, de repente, ficará chocado, pois continuará sendo a mesma pessoa que era antes de ter ido para lá, talvez você esteja até pior. Você não será capaz de tolerar o barulho, o tumulto do mundo. Que tipo de realização é esta? Em lugar de se tornar mais capaz, mais integrado, você terá se desintegrado, terá se enfraquecido. Você não ganhou força.
      ‘Conheça-te a ti mesmo’, mas nesse seu conhecer, não se torne um híbrido ou um idiota! O ego fica inflado – ‘Eu sou uma alma’, ‘Eu sou infinito’, ‘Eu sou eterno’, ‘Eu sou isto e aquilo’... Se o eu continua presente, então você nada é. Quando o Eu se vai, então sim, Deus está, a imortalidade está, mas nada disso você pode possuir, nada disso você pode guardar em seu caixa-forte. E isto nada tem a ver com você! Isto pertence à existência. E você também pertence à existência.
      Este é o primeiro extremo a ser evitado.
      E o segundo extremo é: não se torne um idiota. Não comece a escapar das pessoas, porque todo crescimento está ali com as pessoas, relacionando-se com as pessoas, aceitando os desafios e respondendo a tais desafios.
      Autoconhecimento é um conceito muito estranho, e você precisa compreendê-lo, porque este é todo o trabalho de um Sufi: como conhecer a si mesmo. A expressão ‘si mesmo’ é uma contradição em termos, porque no conhecimento pelo menos duas coisas são necessárias: o sujeito que conhece e o objeto que está sendo conhecido. E no autoconhecimento não existem duas coisas, mas apenas uma. Como chamar isto de autoconhecimento? Quem é o sujeito que conhece e quem é o objeto que é conhecido? A palavra tem que ser usada porque nós não temos outra melhor para isto. Mas ela tem que ser usada muito conscientemente, sabendo que ela não significa extamente o que ela diz.
      Autoconhecimento é um tipo de conhecer, mas não de conhecimento.É um tipo de consciência, luminosidade, mas não conhecimento. Ele não pode ser conhecimento porque isto requer duas coisas.
      Este problema de autoconhecimento foi resumidamente e metaforicamente declarado por Simone de Beauvoir. Ela diz, ‘É fácil dizer: Eu sou Eu. Mas, quem sou Eu? Onde encontrar a mim? Eu teria que estar do outro lado de todas as portas. Mas quando sou eu quem bate na porta, o outro, do outro lado, se torna silencioso. Para conhecer o ser, o ser deve estar em ambos os lados de uma mesma porta. Mas quando o ser que bate é o sujeito que conhece e está de um lado da porta, não há ninguém do outro lado da porta para abri-la. E quando existe um ser do outro lado, do lado do objeto que está sendo conhecido, para abrir a porta, não há ninguém do lado do sujeito que conhece para bater na porta! Então, o que se deve fazer?’
      Entendeu? Se você é o sujeito que conhece, então quem estará ali para ser o objeto conhecido? E se você é o objeto conhecido, quem estará ali como sujeito para conhecer? Isto é o que Beauvoir quer dizer, que você tem que estar de ambos os lados da porta. Por exemplo, se você está batendo na porta e você é o único ali, não haverá ninguém do lado de dentro para responder à sua batida. Se você está do lado de dentro da porta e pronto para abri-la, então não haverá ninguém do lado de fora para bater nela. Você terá que estar em ambos os lados. Só assim haverá alguma comunicação e algum conhecimento.
      Isto é impossível. Como você pode estar nos dois lados da porta? Isto parece mais um koan Zen, e é. Este é o koan básico. A partir deste koan, milhares de outros koans foram criados. Então, o que se deve fazer?
      Alguém dirá: ‘continue batendo!’ Este é o caminho da vontade. ‘Continue batendo!’ Jesus disse: Peça e lhe será dado. Bata e a porta lhe será aberta. Procure e você encontrará.
      Esta é uma resposta: Continue batendo... persevere, seja paciente. Não se sinta frustrado se a porta não está abrindo. Continue batendo, continue batendo...Um dia a porta se abrirá. Esta é uma resposta.
      A outra resposta é: ‘Pare de bater e espere!’ Este é o caminho da entrega, da devoção, do amor, da prece. O primeiro é o caminho do iogue que funciona através do poder da vontade. O segundo é o caminho do devoto que entrega e espera, confia e ora.
      Mas eu lhe digo: Olhe... Não existe nenhuma porta para bater e ninguém para bater nela. E mais, a porta está aberta. Ela tem estado aberta por todo o tempo, desde o começo. E não existe nenhum ser para ser conhecido e nenhum autoconhecimento. Conhecer, naturalmente, existe, mas nada como autoconhecimento.
      Isto foi o que a grande mística Rabia disse para Hasan:
      Hassan costumava orar todos os dias diante do mosteiro, sentando-se na rua. E ele chorava em prantos, olhava para o céu e dizia, ‘Deus, abra a porta! Eu tenho esperado há tanto tempo. Não foi o suficiente? Terei eu que passar por mais testes? Você ainda não me testou o suficiente? Abra a porta! Eu estou chorando. Eu estou em prantos. Eu estou gritando – abra a porta!’
      Esta era a sua constante prece, toda manhã e toda tarde. Onde quer que estivesse, ele ia ao mosteiro, sentava-se na rua e orava.
      Rabia estava passando um dia. Ela bateu na cabeça do Hassan e disse, ‘Que tolice você está falando? A porta está aberta! Mas você está tão absorvido em seus gritos ‘Abra a porta! Escute-me, Senhor. Por que você não abre a porta?’ Você está tão ocupado com essas tolices, que você não consegue ver que a porta está aberta. Ela sempre esteve aberta’.
      Eu concordo com Rabia... Tudo está disponível. Você não precisa lutar. Você nem mesmo precisa se entregar. Porque a entrega é a polaridade oposta à luta. Você tem apenas que estar no meio. Tem que estar no estado de não-fazer, nem lutar nem se entregar. E de repente você será capaz de ver que a porta está aberta. Você nunca foi a nenhum outro lugar. Você sempre esteve aqui. Onde mais você poderia ir? Estar dentro é a sua natureza. E então tudo é revelado como um relâmpago. De repente a escuridão desaparece e tudo é luz.
      Mas não existe ser algum para ser encontrado. O conhecer acontece, mas não um autoconhecimento. Por isto o medo. Lá, bem no fundo, em algum lugar no inconsciente, você sabe perfeitamente bem que ‘Se eu for para dentro, eu não encontrarei a mim mesmo. É melhor não ir para dentro, assim poderei continuar acreditando que ‘Eu sou!’
      Este ‘Eu’ é a única barreira. Este ‘Eu’ é a única ignorância. Este ‘Eu’ é o único pecado.

                                             OSHO – The Perfect Master – vol. II – Capítulo 1

Osho - Incognoscível

          Eu não acreditei,
          em pé, às margens de um rio
          largo e agitado,
          que eu atravessaria aquela ponte
          trançada de palhas finas e frágeis
          amarradas com corda.
          Eu caminhei delicadamente como uma borboleta
          e pesadamente como um elefante,
          eu caminhei certamente como um dançarino
          e titubeante como um cego.
          Eu não acreditei que iria atravessar aquela ponte,
          e agora que eu estou do outro lado,
          eu não acredito que eu a atravessei.
                                                Leopoldo Staff
.
"Mesmo quando você conhecer Deus, 
 você não será capaz de acreditar que O conheceu. 
Isso é o que eu quero dizer quando digo que Deus é um mistério.
Desconhecido, Ele permanece incognoscível.
Conhecido, Ele também permanece incognoscível.
Sem ser visto, Ele é um mistério.
Visto, Ele se torna um mistério ainda maior.
Ele não é um problema que você possa resolver. 
Ele é maior do que você. 
Você pode dissolver-se nele, 
você não pode resolvê-lo."
                                                                                 (Osho)


sábado, 30 de outubro de 2010

Satyaprem - Você é silêncio

Existe muito mais na vida do que as palavras podem conter.
Se você puder ver o que há além do que a sua mente conhece, isso é suficiente - a semente estará plantada.
Você quer experimentar a ausência de pensamentos, a ausência de emoções.
Mas, onde você busca essa experiência?
Stop! Fique em silêncio, agora, e veja qual o pensamento, qual a emoção.
Pare tudo por um segundo... Essa é a semente de tudo.
Se nesse instante você nota que não tem nenhuma emoção e nenhum pensamento, existe a possibilidade de que você veja isso como precioso e abismal.
Não está em nenhum outro lugar, está aqui. Está sempre aqui!

Sempre que existe alguém disposto a se afastar dos pensamentos, a se afastar das emoções, a se afastar de si mesmo, o AQUI se abre.
Não guarde isso como uma memória, não tenha uma memória do aqui. Reconheça a possibilidade preciosa de estar presente para sempre.
Este momento é eterno! É matemático: se este momento é eterno, se este momento é imensurável, ele não termina.

Quando começam os pensamentos, isso exige de você um pouco mais de acuidade, para que você veja que, mesmo que os pensamentos estejam, o Silêncio permanece.
Apenas parece (para os desavisados) que o Silêncio desapareceu, mas não é verdade. É por causa do Silêncio que existe a possibilidade do ruído.
Se não houvesse Silêncio, não haveria ruído. O Silêncio é a fonte de tudo - de onde tudo vem e para onde tudo vai.
Quem é você? Você é o ruído?
Se eu digo que sou o Satyaprem... O Satyaprem é um ruído.
Se eu digo que sou o corpo... O corpo é um ruído na Consciência que eu Sou.
A equação é matemática e simples. Se você olhar para fora você é um corpo.
Se você olhar para fora, em termos emocionais, você é alguma sensação definida pelas circunstâncias.
Se você olhar para a sua mente, você é uma memória espelhada nas experiências.
Mas se você olha para dentro, você é Silêncio.
E você não pode fugir disso, não importa o quanto você tente.
Mais cedo ou mais tarde você tem que se acomodar nisso - você aceita isso e lava as suas mãos.
Os outros vão e você fica.

Satyaprem
Leelahouse - dezembro/2006

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Satyaprem - O silencio é morte da pergunta

Num ato de teimosia, trago à baila mais uma vez:
você é o Silêncio!
E o Silêncio é a morte de quem você pensa que é.
Mais simples, impossível.
Se você tem acesso, celebre.
Se não tem acesso, continue buscando.
Levante pedra;
moa pedra;
coma pedra...
e eventualmente ocorrerá a rendição.
Estou dizendo ‘ocorrerá’, erroneamente,
porque nada há de acontecer.
Se não lhe couber acordar para o Segredo,
você permanecerá buscando e tentando respostas às suas perguntas.

Silêncio é morte.
Morte do quê?
Estamos falando da morte daquele que, constantemente, quer uma resposta.
Isso me lembra uma história Zen onde um monge diz ao seu mestre:
“Mestre, você poderia me dizer o que é iluminação?”
Ao que o mestre responde: "Sim, poderia. Mas você pode compreender?"

A questão é simples:
você acessa à resposta essencial?
Se houver a coragem de colocar de lado tudo em que você acredita,
o acesso ao Silêncio é imediato.
Sim, Silêncio é morte.
E revela para a mente um vazio - aparentemente - indesejável,
é como um buraco negro onde tudo some.

A mente, então, fica na porta, insistentemente,
porque se ela se descuida, desaparece.
Não é realmente curioso, como algo tão simples, de tão bom gosto
e tão desejável, seja tremendamente perigoso para a mente?

Você não encontra a Verdade, porque ela não está perdida.
É simples assim.
Dê esse salto!

A Verdade não pode ser encontrada, porque ela não está perdida.
Se ela estivesse perdida, alguém já a teria encontrado.
Entenda: isso quer dizer que Ela está aqui e agora.

Mooji - Um discípulo de Mooji se iluminando...

Questionador: "Mooji, é realmente possível se tornar ou ganhar a iluminação ? Alguém já se tornou iluminado ou despertou através de estar vindo a Satsang; e se sim, você poderia dizer quem ? "

Mooji: Em verdade não é possível se tornar iluminado assim como você coloca, pois não há ninguém por assim dizer para se tornar iluminado em primeiro lugar. O firme reconhecimento, ou a realização de que não existe em realidade um 'alguém' para alcançar a iluminação, e que nunca em tempo nenhum poderá haver tal entidade, seja agora ou no futuro, para alcançar tal estado, é o que vem a ser a Iluminação.Esta é a verdade derradeira.
Você pergunta: ' Se já alguém, por vir a Satsang, se tornou desperto.' Isto já foi respondido na minha resposta prévia mas vou ainda adicionar que o que tém havido e continua a se dar é um constante reconhecimento do fato que a identidade-ego é um mito, um personagem fictício.
Esta, por assim dizer, individualidade, é uma expressão da pura Consciência/Ser e não o fato ou a definição do Ser. Este Ser permanence por detrás como a testemunha ou a observação dos fenômenos surgindo espontaneamente na consciência. Este Ser verdadeiro é somente a sem-forma e sem-nome presença que surge e brilha como paz, alegria e felicidade sentidos como contentamento amoroso. Quando este reconhecimento ocorre dentro de cada indivíduo, ou expressão da consciência conhecido como 'pessoa', este estado é chamado de 'despertar' ou 'iluminação'

Você me pede para eu apontar se existe alguém assim aqui presente ? Na linguagem comum eu direi que um número de pessoas aqui chegaram neste ponto de ver claramente além de apenas uma mera aceitação ou entendimento intelectual ou acadêmico. No entanto, as tendências mentais e identificações não são completamente destruídas, e o sentido de ego fazendo-se passar pelo assento da realidade continua a aparecer, embora já exposto através da inquirição como uma mera ilusão. Isto é natural. A tarefa e o desafio aqui é trazer repetidamente esta individualidade-Eu de volta a fonte quando ela surgir, e treinando a atenção a permanecer na fonte, que é o seu verdadeiro ser, gradualmente ela funde-se na fonte e se torna a própria fonte.
Finalmente, quem poderia ser esse 'eu'.Quem clamaria: 'Eu o tenho', ou 'Eu sou uma pessoa realizada'. Quem ou o que pode possuir a Iluminação ? Não é o mesmo ego ? Percebe o meu ponto ?
No entanto, alguns Mestres de fato declararam e se afirmaram como a pura realidade, sem qualidades, e falaram a partir desta direta sabedoria livre do ego. Isto também é correto na minha visão e é muito refrescante, natural e com autoridade, para que saibamos que não é possível emoldurar ou limitar o ser puro por nenhum padrão ou lógica humana.

Q: Mas eu me sinto como 'alguém', eu não posso sentir-me como 'ninguém'.
M: Novamente você coloca este 'meu ser' como um objeto de percepção. Como você pode ser um
objeto ? Um objeto deve ter um sujeito que o percebe. Se o sujeito também é percebido, ele automaticamente se torna um objeto, e deve ter um sujeito ainda mais profundo para percebê-lo. Percebe ? Você não pode ser nenhum objeto percebido, você deve ser aquele que percebe, o sujeito. Quem ou o que é o 'você' que percebe ? Perceba isso.
A sua afirmação: ' Eu me sinto como um alguém' contém três aspectos: Eu, meus sentimentos, e o alguém que eu considero ser. Este alguém é meramente a sua idéia de si mesmo, não o seu ser real. E os seus sentimentos, são meramente os sentimentos que dizem respeito a essa idéia de si mesmo. Finalmente existe aquele um que é o sujeito quem percebe esta observação. Estou certo ?
Q:Sim.
M:Quem ou o que é você exatamente ?
Q: Eu sou eu, o meu ser!
M: E o que exatamente é isso ?
Q: Eu! Ou melhor , a minha idéia de mim mesmo.
M: Então, não o corpo ?
Q: Não, Eu sei que eu não sou o corpo.
M: Como você sabe que não é o corpo ?
Q: Eu posso ver o meu corpo e eu simplesmente sei que não é isso que eu sou, embora algumas vezes eu sinta que eu sou isso também.
M: Ok, muito bem. Podemos voltar para a sua resposta que você é o seu conhecimento de si mesmo ? Você tem certeza que é o conhecimento do seu ser e não meramente o conhecimento da idéia do seu ser ou de sua personalidade ? Como é que você veio a conhecer-se ? Como você está conhecendo o seu ser aqui e
agora ?
Q: Quando eu comecei a perceber as outras coisas e as pessoas.
M: Sim, e como perceber o outro te traz para você mesmo?
Q: Porque eu sei que eu estou percebendo. E Que eu tenho que estar ali para perceber.
M: Então nenhum objeto percebido pode ser você, estou certo ?
Q: Certo.
M: Exatamente ! Muito bom ! Agora então quem ou o que exatamente é isso que percebe ou nota qualquer coisa ?
Q: Eu ! Isto !
M: Este 'eu' é o mesmo que 'isto' ?
Q: Sim.
M: E novamente o que é isso ? Qual é a sua qualidade, sua substância ? O que te compõe exatamente ? Olhe e me diga. É algum 'você' particular ? Uma pessoa ? Distinto dela ou dele ou deles ?
Q: Bem, sim...não...é vago, eu não vejo bem.
M: Mantenha-se concentrado, não disperse, esteja sereno e veja. O que você é aqui ? Nesta observação, você pode dizer ?
Q: Eu não sou nenhuma pessoa ou coisa alguma, mas eu não sei o que eu sou. Não há nada aqui, eu não posso responder isso. Há um sentimento de não querer olhar, de cansaço, resistência ou irritabilidade.
M: Ok. Não se engaje em nenhuma avaliação, não toque em nada, apenas seja um com este observar. Fique aqui sem ter que tentar.
(Há uma longa pausa aqui).
Você parece confuso, com o quê você está atrapalhado ?
Q: Existe apenas este vazio.
M: O que está testemunhando este vazio ?
( o questionador olha para cima e sorri, olhos fixos em Mooji)
M: De onde este sorriso está vindo ?
(Silêncio...)
Q: Eu não sei, há um sentimento de alívio, espaço e paz, um tipo de leveza.
M: Um tipo ?
Q: Não. Leveza, espaço e paz.
M: Esta leveza e paz brilha onde não há ninguém. Isto é paz. Isto é alegria real. Isto é puro amor. Apenas agora não se apoie nisso. Não possua ou clame isso. Permaneça a testemunha.
Q: Sim, sim (sorrindo). Eu vejo que eu sou apenas a testemunha aqui. Obrigada. (ela prosta suas mãos na forma de comprimento/agradecimento tradicional Indiana).
M: Não vá embora já não.
(alguns momentos passam)
Agora deixe de ser a testemunha.
Q: Eu estou confusa.
M: Não, você não está confusa. A confusão está sendo testemunhada. Não se identifique com isso. O que permanence ? Não toque em nada, mesmo a testemunha, não seja 'uma' testemunha. Testemunhando sem 'uma' testemunha, você entende ?
Q: Sim.
M: Quem é que está entendendo ?
Q: Ninguém, apenas entendendo.
M: Muito bom. Estou muito feliz em te encontrar. Agora deste lugar sem localização em total vazio como o vazio, além do conceito de vazio, você É sem nenhum esforço. Você não se tornou isto ou ganhou isto porque não há ninguém aqui para ganhar qualquer coisa. A partir, ainda que de dentro desta indescritível consciência, a consciência nasce e brilha como o Eu que percebe. E o que quer que surja aqui são meras formas aparentes da consciência-Eu sendo percebidas.
Q: Obrigado.
M: Seja bem-vindo.
OM

domingo, 24 de outubro de 2010

Osho - A busca do homem

Querido Osho.
O que eu estou procurando?

"Jeva Parmita, o homem é uma busca do self (*), não de um self, mas do self. O homem está constantemente procurando o paraíso perdido. Em algum lugar profundo nos nichos de seres humanos, a nostalgia persiste. Nós conhecemos alguma coisa que é apenas uma memória longínqua. A memória nem mesmo está consciente. Nós perdemos todas as trilhas dela, até onde ela está. Mas a fragrância continua surgindo.
Conseqüentemente, a religião não é um fenômeno acidental. Ela não vai desaparecer do mundo; nenhum comunismo e nenhum fascismo conseguem fazê-la desaparecer. A religião vai permanecer, porque ela é muito essencial. A não ser que o homem supere a humanidade, a não ser que o homem se torne um Buda, a religião permanece relevante. Somente para um Buda a religião é irrelevante. Ele já chegou; agora não há necessidade de qualquer busca.


Parmita, não há diferentes buscas por seres humanos diferentes. A busca é singular, ela é única, ela é universal. A busca é do self, o supremo self. A pessoa quer saber 'Quem eu sou?' porque tudo o mais é secundário. Sem conhecer a si mesmo, tudo o que for feito é sem sentido. A não ser que eu conheça exatamente quem eu sou, toda a minha vida vai permanecer inútil. Ela não irá trazer realização, florescimento e satisfação.
O primeiro passo tem que ser o auto-conhecimento. Mas o paradoxo é que se você começa buscando por um self, você irá perder o self. Por 'um' self eu quero dizer o ego, o processo do ego. Esse é o falso self. Para nos consolarmos, começamos a criar o falso, uma vez que não conseguimos encontrar o verdadeiro. Ele é um substituto. Mas o substituto nunca pode tornar-se a verdade, e o substituto torna-se uma escravidão.
A verdade liberta. Substitutos da verdade aprisionam. O ego é a maior prisão que o homem já inventou; todos vocês estão se sentindo sufocados, esmagados. Não é que alguém esteja fazendo isso com você. Você é quem está fazendo isso. Você deu um passo errado. Em vez de buscar por aquilo que é, você começou substituindo algo por um brinquedo, por uma coisa falsa. Isso pode ser um consolo para você, mas não trará celebração para a sua vida. E todo consolo é suicida, porque enquanto você permanece consolado, o tempo vai escapando de suas mãos.

O self não é um self. O self é exatamente um não-self. Não há qualquer idéia de 'Eu' nele, ele é universal. Todas as idéias surgem nele, mas ele não pode ser identificado com qualquer idéia que surja nele. Todas as idéias surgem nele, todas as idéias dissolvem-se nele. Ele é o céu, o contexto de todos os contextos, ele é o espaço no qual tudo acontece. Mas o espaço em si nunca acontece, ele habita, ele está sempre ali, e porque ele está sempre ali, é fácil perdê-lo. Porque ele está muito ali e sempre ali, você nunca se torna consciente de sua presença.

Ele é como o ar: você não se torna consciente de sua presença. Ele é como o oceano que circunda o peixe; o peixe nunca se torna consciente dele. É como a pressão do ar: a pressão é tanta, ela está sempre ali, mas você não é consciente dela. É como a terra apressada em grande velocidade ao redor do sol: a terra é uma nave espacial, mas ninguém está consciente disso. Nós estamos a bordo de uma nave espacial, e ela está indo em grande velocidade. E nós não estamos conscientes disso.
Consciência precisa de algumas falhas. Quando não há qualquer falha, você cai no sono; você não consegue permanecer consciente.
Se uma pessoa está sempre saudável, ela não estará consciente da saúde. Consciência precisa de falhas, algumas vezes você deve estar não saudável.Você deve adoecer, então você poderá ter a sensação de saúde. Se não existisse escuridão no mundo e existisse somente luz, ninguém jamais teria conhecido a luz, as pessoas nem a teriam percebido.
É assim que nós seguimos sem perceber o self original; você pode chamá-lo de Deus ou nirvana, isso não importa.Os sufis têm duas belas palavras. Uma é fana: fana significa dissolvendo o ego, dissolvendo o falso substituto. E a outra palavra é baqa: baqa significa a chegada, o surgimento do self verdadeiro.
O verdadeiro self é universal. Como encontrá-lo? Ele não está longe, assim você não tem que fazer uma longa jornada até ele. Ele está tão próximo que nenhuma jornada é necessária, absolutamente. Em vez de jornada, você tem que aprender como sentar-se silenciosamente.

Isso é tudo a respeito de meditação: simplesmente sentar-se silenciosamente, nada fazendo. Os pensamentos surgem, você observa. Os desejos surgem, você observa. Mas você permanece o observador. Você não se torna uma vítima dos desejos e dos pensamentos que vão surgindo; você permanece o observador. Você permanece o contexto de todos os contextos, você permanece o espaço no qual tudo aparece. Mas o espaço nunca aparece nele mesmo, ele não consegue, é impossível.
O espelho não consegue refletir a si mesmo. Os olhos não conseguem ver a si mesmos. Você não consegue segurar uma mão com a mesma mão, é impossível.
Essa é a coisa mais fundamental a ser lembrada, Parmita. Você é o observador e nunca o observado; você é o vigilante e nunca o vigiado; você é a testemunha e nunca o testemunhado. Você é pura subjetividade. Você nunca aparece como um objeto. Como você pode aparecer como um objeto diante de si mesmo? Qualquer coisa que aparecer em frente a você não é você.
Continue eliminando os conteúdos. Continue dizendo 'neti neti, eu não sou isso, eu não sou isso.' Continue eliminando, e um momento chegará em que nada permanecerá para ser eliminado.Haverá puro silêncio, nenhum conteúdo se movendo diante de você, o espelho refletindo nada. Este é o momento em que o auto-conhecimento surge em você. Você se torna cheio de luz, você está iluminado.



OSHO - Unio Mystica - Discurso 2 - pergunta 1(parte)

Osho - Meditação e Amor


      Toda a vida é feita de polaridades: positivo e negativo, nascimento e morte, homem e mulher, dia e noite, verão e inverno. Toda a vida consiste em opostos polares. Mas esses opostos não são apenas polares, são também complementares. Eles se ajudam um ao outro, dão apoio um ao outro.
      Eles são como tijolos que formam uma arcada. Os tijolos de uma arcada têm que ser colocados uns contra os outros. Parecem estar um contra o outro, mas é por meio da oposição deles que a arcada é construída, que ela permanece firme. A resistência da arcada depende da polaridade dos tijolos colocados em oposição uns aos outros.
      Esta é a polaridade máxima: meditação significa a arte de estar sozinho e amor significa a arte de estar junto. A pessoa completa é aquela que conhece ambas as artes e é capaz de se mover de uma para a outra com a maior facilidade possível. E exatamente como a inspiração e a expiração - não há dificuldade. Elas são opostas - quando vocês inspiram o ar, é um processo; quando expiram o processo é exatamente o oposto. No entanto, inspiração e expiração formam uma respiração completa.
      Na meditação, vocês inspiram; no amor, expiram. Com o amor e a meditação juntos, sua respiração estará completa, inteira, total.
      Durante séculos, as religiões tentaram atingir um pólo com a exclusão do outro. Existem religiões de meditação como, por exemplo, o jainismo e o budismo - são religiões meditativas, estão enraizadas na meditação. E existem religiões bhakti, religiões de devoção: o sufismo, o hassidismo - que estão enraizadas no amor. A religião baseada no amor precisa de Deus como o 'outro' a quem amar, a quem rezar. Sem um Deus, a religião de amor não consegue existir, é inconcebível - vocês precisam de um objeto de amor. Porém, uma religião de meditação consegue existir sem o conceito de Deus; essa hipótese pode ser descartada. Por isso o Budismo e o Jainismo não acreditam em Deus algum. Não há necessidade de um outro. A pessoa tem apenas que saber como ficar só, como permanecer silenciosa, como ficar quieta, como estar absolutamente calma e quieta dentro de si mesma. O outro tem que ser completamente abandonado, esquecido. Por isso, essas são religiões atéias.
      Quando pela primeira vez os teólogos ocidentais entraram em contato com as literaturas budistas e jainistas, eles ficaram bastante confusos: como chamar de religião a essas filosofias atéias? Poderiam ser chamadas de filosofias, mas como chamá-las de religião? Isso era inconcebível para os teólogos, pois as tradições judaico e cristã consideram que, para alguém ser religioso, Deus é a hipótese mais fundamental. A pessoa religiosa é aquela temente a Deus, mas os budistas e jainistas dizem que não existe Deus; Assim a questão de temer a Deus não existe.
      No Ocidente, durante milhares de anos, pensava-se que a pessoa que não acreditava em Deus era um ateu, não era uma pessoa religiosa. Mas Buda era ateu e religioso. Essa idéia soava muito estranha para os ocidentais porque eles nem sequer imaginavam que existiam religiões que tinha como base a meditação.
      E o mesmo é verdadeiro para os seguidores de Buda e Mahavira. Eles riem da tolice das outras religiões que acreditam em Deus, porque essa idéia como um todo é absurda. É apenas fantasia, imaginação, nada mais; é uma projeção. Mas para mim, ambas são, ao mesmo tempo, verdadeiras.
      Minha compreensão não está baseada em um único polo; minha compreensão é fluida. Eu saboreei a verdade de ambos os lados: eu amei totalmente e meditei totalmente. Esta é a minha experiência: a de que uma pessoa está completa só quando conhece os dois polos. Senão, ela é apenas uma metade; algo fica faltando nela.
      Buda é uma metade - Jesus também. Jesus conhecia o que é o amor, Buda conhecia o que é a meditação; mas, se eles se encontrassem, seriam impossível se comunicarem entre si. Um não compreenderia a linguagem do outro. Jesus falaria sobre o reino de Deus e Buda começaria a rir: 'Que absurdo é esse que você está dizendo? O reino de Deus?' Buda diria apenas: 'Cessação do eu, desaparecimento do eu'. E Jesus: 'Desaparecimento do eu? Cessação do eu? Isso é cometer suicídio, o suicídio máximo. Que espécie de religião é essa? Fale do Eu Supremo!'
      Um não entenderia as palavras do outro. Se alguma vez eles tivessem se encontrado, precisariam de um homem como eu como intérprete; caso contrário não haveria comunicação entre eles. Eu teria de interpretar de tal maneira que acabaria sendo infiel a ambos! Jesus falaria em 'reino de Deus', que eu traduziria por 'nirvana' - então Buda poderia entender. Buda diria 'nirvana' e, para Jesus, eu diria 'reino de Deus' - então ele poderia compreender.
      Agora a humanidade precisa de uma visão total. Nós já vivemos com visões parciais por muito tempo. Essa foi uma necessidade do passado, mas agora o homem amadureceu. Os meus sannyasins têm de provar que podem meditar e rezar ao mesmo tempo; que podem meditar e amar ao mesmo tempo; que podem estar tão silenciosos quanto possível e que podem celebrar e dançar tanto quanto possível. Seu silêncio tem de se tornar a sua celebração, e sua celebração tem que se tornar o seu silêncio. Eu lhes dei a tarefa mais difícil que já foi dada a um discípulo, porque esse é o encontro dos opostos.
      E nesse encontro, todos os outros opostos vão se fundir e tornar-se um: Oriente e Ocidente, homem e mulher, matéria e consciência, este mundo e o outro mundo, vida e morte. Todos os opostos vão se encontrar e fundir-se por meio desse encontro, pois essa é a polaridade máxima; ela contém todas as polaridades.
      Esse encontro criará um novo ser humano - Zorba, o Buda. Esse é o nome que eu dou ao novo homem. E cada um dos meus sannyasins precisa fazer todos os esforços possíveis para se transformar nessa liquidez, nesse fluxo, de modo que os dois polos façam parte deles.
      Assim, vocês terão sentido o gosto da totalidade. E conhecer a totalidade é o único meio para se conhecer o que é o sagrado. Não há outro meio" 
 OSHO, Autobiografia de um Místico Espiritualmente Incorreto

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Osho - Palavras de Ashtavakra


Você não é terra, nem ar, nem fogo, nem água, nem éter. Para alcançar a libertação, conheça a si mesmo como consciência de todas essas coisas, testemunhando.

         Esta declaração é tão imediata, nem sequer tem uma introdução. Ashtavakra proferiu duas sentenças diretas e chegou à meditação. Ele começou a falar sobre samadhi, sobre meditação profunda. Aquele que sabe só dispõe do samadhi para compartilhar. Primeiro ele disse duas sentenças porque se ele tivesse começado imediatamente a falar sobre samadhi, talvez você ficasse assustado demais para entender. Por isso as duas sentenças e, imediatamente após, ele já está falando sobre samadhi.
         Ashtavakra nem mesmo dá os sete passos. Buda deu sete passos e no oitavo, o samadhi. Ashtavakra nos traz o samadhi já no primeiro passo.

Você não é terra, nem ar, nem fogo, nem água, nem éter..

         Permita-se relaxar nesta verdade...

Para alcançar a libertação, conheça a si mesmo como consciência de todas essas coisas, testemunhando.

         A testemunha é a chave. Não existe chave alguma mais valiosa que esta.
         Seja o observador. O que acontecer, deixe que aconteça. Não há qualquer necessidade de interferir. O corpo é composto por terra, ar, fogo, água e éter. Você é a lâmpada interna pela qual tudo isso – terra, ar, fogo, água e éter – são iluminados. Você é o observador. Entre profundamente nisto.

... conheça a si mesmo como consciência de todas essas coisas, testemunhando.

         Este é o mais importante sutra na existência. Seja uma testemunha. A sabedoria acontecerá através disto. O desapego acontecerá através disto. A libertação acontecerá através disto. As perguntas eram três, mas a resposta é uma.

Se você puder separar-se do corpo físico e descansar em consciência, então neste exato momento você será feliz, em paz e livre da escravidão.

         ...Neste exato momento! É por isto que eu digo que isto é uma revolução desde a raiz. Patanjali não é tão corajoso para dizer, ‘Neste exato momento.’ Patanjali diz, ‘Pratique disciplina interna e externa. Pratique o controle da respiração, volte-se para dentro e posturas de yoga. Purifique-se. Isto levará inumeráveis vidas, e depois a iluminação. ..’
         Mahavira diz, ‘Pratique os cinco grandes votos. E quando inumeráveis vidas tiverem passado, o descondicionamento acontecerá, a purificação acontecerá. Então os vínculos do karma serão cortados.’
         Ouça Ashtavakra:
 Se você puder separar-se do corpo físico e descansar em consciência, então neste exato momento você será feliz, em paz e livre da escravidão.

         Exatamente aqui, exatamente agora, neste exato momento, Se você puder separar-se do corpo físico e descansar na consciência... Se você começar a ver o fato,  .’Eu não sou o corpo, eu não sou o fazedor nem o que desfruta a vida: sou aquele escondido dentro de mim que vê tudo... Quando a infância veio, ele viu a infância; quando a juventude veio, ele viu a juventude; quando a velhice veio, ele viu a velhice. A infância não permaneceu, assim eu não posso ser a infância. Ela veio e passou, e ainda estou. A juventude não permaneceu, assim eu não posso ser a juventude. Ela veio e passou, e ainda estou. A velhice veio e está indo, assim eu não posso ser a velhice.. Como eu posso ser aquilo que vem e vai? Eu estou sempre. Aquele a quem a infância vem, a quem a juventude vem, a quem a velhice vem... a quem milhares de coisas vieram e se foram. Eu sou aquele eterno, perpétuo.’
         Como as estações de trem, elas seguem mudando: infância, juventude, velhice, nascimento. O viajante continua se movimentando. Você nunca pensa que se tornou um com as estações de trem. Vindo à estação de Puna, você não pensa que você é Puna. Quando você alcança Manmad você não pensa que você é Manmad. Você sabe que Puna chegou e ficou para trás.Manmad chegou e ficou para trás. Você é um viajante. Você é o observador que viu Puna; Puna chegou e ficou para trás; que viu Manmad, Manmad chegou e ficou para trás. Você é aquele que vê.
         A primeira coisa: separe o que está acontecendo do observador.

... separe a si mesmo do corpo físico e descanse em consciência...

         Nada mais há de valor a se fazer.

         Assim como a chave do sutra de Lao Tzu é a entrega, a chave do sutra de Ashtavakra é o descanso, o relaxamento. Nada há para se fazer.
         As pessoas vêm a mim e perguntam como meditar. A própria pergunta está errada. Eles formulam uma pergunta errada, por isto eu digo a eles para fazer tal coisa. O que eu devo fazer? Eu digo a eles, ‘façam – uma coisa ou outra tem que ser feita.’ Você está coçando para fazer alguma coisa e essa coceira tem que ser satisfeita. Se ela coça, o que fazer? Ela não pode ficar sem ser coçada. Mas, pouco a pouco, só por mantê-los ocupados fazendo algo, eu os faço ficarem cansados. Então eles dizem, ‘Alivie-nos disto. Por quanto tempo nós continuaremos a fazer isto?’ Eu digo, ‘Eu estava pronto desde o início para lhes dizer, mas vocês precisavam de tempo para entender. Agora, relaxem!’

         O significado final da meditação é descansar.
         ... Descanse em consciência... Aquele que deixa sua consciência estar relaxada, aquele que descansa apenas em ser... Nada há para se fazer, porque você já tem tudo aquilo que está buscando, porque você nunca perdeu aquilo que está buscando. Não é possível perder, porque aquilo é a sua natureza. Você é o divino. Ana’l haq – você é a verdade. Que lugar você está procurando, para onde você está correndo? Em busca de si mesmo, para onde você está correndo? Pare. Relaxe. O divino não é alcançado através da corrida, porque ele está escondido dentro daquele que corre. O divino não é alcançado por se fazer alguma coisa, porque ele está escondido dentro daquele que faz. Para experienciar o divino, nada precisa ser feito; você é ele.
         Então Ashtavakra diz: ... descanse em consciência... Relaxe, deixe-se desligar. Deixe ir essa tensão. Para onde você está indo? Não há lugar algum para ir, não há lugar algum para ser alcançado...  e descanse em consciência... agora ...neste exato momento você será feliz, em paz e livre da escravidão. A declaração é sem igual. Nenhuma outra escritura é comparável a isto.

Você não é um brâmane ou outra casta, você não está em qualquer um dos quatro estágios da vida, você não é percebido pelos olhos nem pelos outros sentidos. Desapegado e sem forma, você é a testemunha de todo o universo. Saiba isto e seja feliz.
OSHO – Enlightenment: The Only Revolution- Cap. 1(parte)
                                                            

Gangaji - Satsang


Bem-vindo a Satsang 

Aquilo que desejas, Aquilo por que sentes fome, é Aquilo que está sempre presente. Aquilo é o que tu realmente és.
Quando eu digo “tu”, não me estou a referir ao teu corpo. O teu corpo está naquilo. Eu não me estou a referir aos teus pensamentos. Os teus pensamentos estão naquilo. Não me estou a referir às tuas emoções. As tuas emoções aparecem e desaparecem naquilo. Não estou a falar de circunstâncias. As circunstâncias, também, aparecem e desaparecem naquilo.
Corpos, pensamentos, emoções e circunstâncias mudam. Elas aparecem e desaparecem. Eles podem ser bons ou maus. Eles podem ser agradáveis ou desagradáveis. A verdade que tu és é permanente e imóvel. 

A maravilhosa, boa notícia é que apesar de te imaginares, podes reconhecer quem realmente és. Independentemente da tua experiência enquanto corpo ou como o pensamento, eu sou este corpo, podes receber a transmissão directa da verdade pelo teu verdadeiro eu. A transmissão é satsang. Satsang confirma a tua verdadeira identidade como consciência pura, livre de qualquer condicionamento.

Quando esta boa notícia é ouvida, realmente ouvida, há uma abertura imensa. Ninguém alguma vez reportou o fim da realização do seu verdadeiro Eu. O que termina é a preocupação em imaginar-se como uma entidade particular separada da consciência ilimitada.
Eu não tenho nada a ensinar-vos. Auto-conhecimento não é aprendizagem. Auto-conhecimento não é algo que possa ser contido em palavras. Embora palavras possam ser usadas, nenhuma palavra que alguém alguma vez possa ter dito tocou a glória do Ser. Estou aqui para apontar Aquilo, para celebrar Aquilo e rir de qualquer argumento que diga que algo pode eventualmente obstruir Aquilo.

Não estou a pedir-vos para se lembrarem de alguma coisa. Não estou a pedir-vos para fazerem alguma coisa ou para terem alguma coisa. Nada é necessário. Estou a pedir-vos para verem que já são aquilo que querem. E estou simplesmente a sugerir, assim como o meu mestre me sugeriu, e como o seu mestre lhe sugeriu, que vocês tomem um instante, um milésimo de segundo, e permitam a actividade da mente parar. Nesse milésimo de segundo, que descoberta é feita! Nesse milésimo de segundo, recebes o convite para te renderes ao que é revelado quando não há qualquer atenção no corpo, pensamento, emoção ou circunstância.
É um único momento! Nesse instante o corpo desaparece. Nesse instante de perfeito silêncio tu descobres o que está permanentemente aqui, aquilo que sempre tem estado, aquilo que és tu permanentemente. Este instante de silêncio é o convite ao verdadeiro refúgio, ao verdadeiro retiro, verdadeira paz, independentemente das vindas e idas.
Que instante este! Neste instante não há fixação no passado, não há especulação no futuro, e não há a análise do presente com relação ao passado ou ao futuro. Neste instante não há preocupação mental. Não há existência condicionada. Há apenas a consciência pura e incorrompida. Neste instante estás em Satsang.

Do livro "You Are that" de Gangaji

Osho - A não morte de Sócrates.

Ouvi contar que um homem foi visitar um faquir muçulmano, o xeque Farid, e lhe disse:-ouvimos dizer que quando cortaram ao Mansoor as mãos e as pernas ele não sentiu dor. É difícil de acreditar. Até um espinho dói quando nos cravamos isso no pé. Como não vai doer que a um cortem as mãos e as pernas? Parece que todos esses relatos são umas fantasias. Diz-se –acrescentou também o homem- que quando cravaram ao Jesus na cruz ele não sentiu nenhuma dor. E pôde dizer suas últimas orações. É difícil de acreditar o que disse Jesus em seus últimos momentos, sangrando e nu, ferido de espinheiros, com as mãos cravadas! 

Jesus disse: “Perdoa-os, porque não sabem o que fazem.” Devem ter ouvido esta frase. E todas as gente de todo o mundo que acreditam em Cristo a repetem continuamente. A frase é muito singela. Jesus disse: “Senhor, perdoa-os, porque não sabem o que fazem”. As pessoas que lêem esta frase revistam entender que Jesus diz que aquelas pobres gente não sabiam que estavam matando a um homem bom como era ele.
Não: aquilo não era o que queria dizer Jesus. O que queria dizer Jesus era o seguinte: “Estas gente insensíveis não sabem que a pessoa a que estão matando não pode morrer. Perdoa-os, porque não sabem o que fazem. Fazem algo impossível: estão cometendo o ato de matar, que é impossível.”
-É difícil acreditar que uma pessoa a que estão a ponto de matar manifestasse tanta compreensão –disse aquele homem- Em realidade, estaria cheio de ira.
Farid soltou uma gargalhada e disse:
-expuseste uma boa pergunta, mas te responderei mais tarde. Primeiro, me faça um pequeno favor.Tomou um coco que estava no chão perto dele, o entregou e lhe pediu que rompesse a casca com cuidado de não danificar a polpa. Mas o coco estava verde, e o homem disse: -Perdoa: não posso fazê-lo. O coco está completamente verde, e se romper a casca se danificará também a polpa.
Farid lhe pediu que deixasse a um lado o coco. Depois lhe entregou outro coco, que estava amadurecido, e lhe pediu que rompesse a casca.
-Pode salvar a polpa? –perguntou-lhe.
E o homem respondeu:
-Sim: posso salvar a polpa.
-Dei-te uma resposta –disse Farid- Compreendeste-me?
-Não compreendi nada –respondeu o homem-. O que tem que ver um coco com sua resposta? O que tem que ver o coco com minha pergunta?
-Deixa também este coco –disse Farid-. Não faz falta rompê-lo, nem nenhum outro. O que te estou indicando é que há um coco verde que tem a casca unidas à polpa:  se golpear a casca, danifica-se também a polpa. E também há um coco amadurecido. No que se diferencia o coco amadurecido do coco verde? Há uma ligeira diferença: a polpa do coco amadurecido se encolheu no interior e se separou da casca: a casca se separou da polpa. Agora, como você diz, pode-se romper a casca salvando a polpa. Assim respondi a sua pergunta!
-Sigo sem entendê-lo –disse o homem.

-Vê, morre e compreende –disse o faquir-; de outro modo não poderá seguir o que estou dizendo. Mas nem sequer então será capaz de seguir minhas palavras, porque no momento da morte ficará inconsciente. Um dia se separará a casca da polpa, mas nesse momento ficará inconsciente. Se quer compreender, começa agora a separar a polpa da casca: agora, enquanto está vivo. Se a casca (o corpo) e a polpa (a consciência) separam-se neste mesmo instante, acaba-se a morte. Com a criação deste distanciamento chegarão ou seja que a casca e a polpa são duas coisas independentes: que sobrevivem embora se rompa a casca, que não há possibilidade de que lhes desagreguem, de que desapareçam. Nesse estado, embora aconteça a morte, não poderá penetrar dentro de vós: acontecerá fora de vós. O que são vós sobreviverá.
Este é o significado mesmo da meditação ou samadhi: aprender a separar a casca da polpa. Podem-se separar porque são coisas independentes. Podem-se conhecer por separado porque são coisas independentes. Por isso chamo eu à meditação uma entrada voluntária na morte, encontra-se com ela e chega ou seja que “a morte está ali, mas eu sigo aqui”.

Sócrates esta a  ponto de morrer. Aproximavam-se os últimos momentos: já estavam preparando o veneno para matá-lo. Ele perguntava uma e outra vez: 
-Faz-se tarde, quando terminarão de preparar o veneno? Seus amigos choravam e lhe diziam: -Está louco? Queremos que vivas um pouco mais. subornamos ao que tem que preparar o veneno: persuadimo-lo para que trabalhe devagar.
Sócrates saiu e disse ao que preparava o veneno:
-Está demorando muito. Parece que não sabe fazê-lo. É novo no ofício? Alguma vez tinha preparado veneno? Alguma vez tinha administrado veneno a um condenado?
-Levo administrando veneno toda minha vida –disse o homem-, mas nunca tinha visto um louco como você. Por que tem tanta pressa? 
Estou-o preparando devagar para que possa respirar um pouco mais, para que vivas um pouco mais, para que conserve a vida um pouco mais. E você não deixa de dizer loucuras, de dizer que se faz tarde. por que tem tanta pressa por morrer?
Tenho muita pressa porque quero ver a morte –disse Sócrates- Quero ver como é a morte. E também quero ver, mesmo que se tenha produzido a morte, se eu sobreviver ou não. Se não sobreviver, acabou-se toda a questão; e se sobreviver, então se acabou a morte. Em realidade, quero ver quem morrerá com a morte: morrerá a morte, ou morrerei eu? Quero ver se sobreviverá a morte ou se serei eu o que sobreviva. Mas como poderei ver isto se não estando vivo?

Entregaram ao Sócrates o veneno. Seus amigos começaram a chorar por ele: não estavam em seu são julgamento. E que fazia Sócrates? Dizia-lhes: -O veneno chegou aos joelhos. Tenho as pernas completamente mortas até os joelhos: se me cortassem isso, não me inteiraria. Mas, meus amigos, direi-lhes que embora tenha mortas as pernas sigo vivo. Isto significa que uma coisa é segura: eu não era minhas pernas. Sigo aqui; estou aqui completamente. Nada em mim se há disolvido ainda. Agora perdi as duas pernas –seguiu dizendo Sócrates-; tudo terminou até minhas pantorrilhas. Se me cortassem as pernas pelas pantorrilhas não sentiria nada. Mas eu sigo aqui! E aqui estão meus amigos, que seguem chorando!

-Não chorem –diz Sócrates- Olhem! Hei aqui uma oportunidade para vós: um homem se está morrendo e lhes está informando que segue vivo. Podem me cortar as pernas inteiras, e nem  sequer assim estarei morto; mesmo assim seguirei aqui. Também me estão insensibilizando as mãos; minhas mãos também morrerão. Ah! Quantas vezes me identifiquei com estas mãos, com estas mesmas mãos que agora me estão deixando! Mas eu sigo aqui.

E Sócrates segue falando assim enquanto morre.
-Lentamente, tudo se pacifica –diz- tudo se afunda, mas eu sigo intacto. Dentro de um momento possivelmente não seja capaz de seguir lhes informando, mas não criam por isso que já não estou. Pois se eu estiver aqui depois de perder tanto de meu corpo, como poderia me chegar o fim por perder um pouco mais do corpo? Possivelmente não seja capaz de lhes informar (pois isso só é possível através do corpo), mas eu permanecerei.

No último momento, diz:
-Agora, possivelmente lhes digo o último: falha-me a língua. Não poderei lhes dizer uma só palavra mais, mas ainda lhes digo que existo.
Até o último momento da morte seguiu dizendo: “Sigo vivo”.

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