sábado, 16 de outubro de 2010

Osho - O fazer e o não fazer.

A mente é a queda original, a queda do estado de ser. A mente é o pecado original. Estar na mente é estar no mundo; não estar na mente é estar em Deus. A diferença é muita.
A queda tem que ser entendida. Medite sobre três palavras: ser, fazer e ter. Do ser ao ter é a queda, e o fazer é o processo de se ir do ser ao ter. Ser é Deus, ter é o mundo, e fazer é o processo de cair do ser para o ter.
A mente é uma fazedora. A mente constantemente quer estar ocupada. Um grande desejo de permanecer atarefada, isto é a mente. A pessoa não consegue se sentar só; não consegue se sentar em passiva receptividade, nem mesmo por uns poucos momentos. Isto é uma grande tortura para a mente, porque no momento em que você pára de fazer, a mente começa a desaparecer.

Se você for a um mestre Zen e perguntar 'O que vocês fazem aqui? O que estas pessoas, seus seguidores, estão fazendo?' ele dirá, 'Eles estão apenas sentados. Eles não fazem coisa alguma'. (...)
A mente é uma fazedora. Observe sua própria mente e você compreenderá. O que estou dizendo não é uma declaração filosófica, é simplesmente um fato. Não estou propondo nenhuma teoria para você acreditar ou desacreditar, mas alguma coisa que você pode observar em seu próprio ser. E você verá isto, sempre que estiver só, você imediatamente começa a procurar: alguma coisa tem que ser feita, você tem que ir a algum lugar, você tem que ver alguém. Você não consegue estar só. Você não consegue ser um não-fazedor.

Fazer é o processo pelo qual a mente é criada; ela é um fazer condensado. Conseqüentemente, meditação significa um estado de não-fazer. Se você puder sentar silenciosamente, nada fazendo, de repente você estará de volta para casa. De repente você verá a sua face original, a fonte. E esta fonte é satchitanand: verdade, consciência e felicidade, chame isto Deus, ou nirvana, ou o que você quiser.


Do ser ao fazer, e do fazer ao ter, é como a consciência de Adão chega ao mundo. Mover-se de volta, do ter ao fazer, e do fazer ao ser, é o que significa consciência de Cristo. Mas os Sufis têm uma mensagem tremendamente significante para o mundo. Eles dizem que o homem perfeito é aquele que é capaz de se mover do ser ao fazer, ao ter, ao fazer e ao ser, e assim por diante. Quando o círculo está perfeito, então o homem é perfeito.
A pessoa deve ser capaz de fazer. Não estou dizendo que você deve tornar-se incapaz de fazer; isso não tem valor algum, isso simplesmente é impotência. Você deve ser capaz de fazer, mas não deve ficar absorvido nisto. Você não deve ficar envolvido no fazer, não deve ficar possuído por isto; você deve permanecer o senhor da situação.
E não estou dizendo que tudo o que você tem terá que ser abandonado, não estou lhe dizendo para renunciar a tudo o que você possui. Use, mas não seja usado pelo que possui, isso é tudo. Assim nasce o homem perfeito.

A esse homem perfeito eu chamo sannyasin: ele será ambos, Adão e Cristo. O homem mundano é Adão e, até agora, o homem além do mundano esteve envolvido com a consciência de Cristo. Mas cada qual continua sendo apenas a metade.
O homem precisa tornar-se uma totalidade, um todo. E a minha definição de ser santo nada mais é que ser o todo, a capacidade de estar no mundo e, ainda assim, permanecer acima dele, além dele; a capacidade de usar a mente e, ainda assim, permanecer centrado em seu ser. A mente é um mecanismo de imenso valor; não é um pecado ter uma bela mente. Você tem um belo instrumento de imensa complexidade, e é um prazer usá-lo, da mesma maneira que é um prazer dirigir um belo carro que tenha um mecanismo perfeito.
Nada existe como a mente, se você conseguir usá-la. Então, a mente também é divina. Mas se você for usado por ela, e se o seu céu ficar perdido nas nuvens da mente, então, você permanecerá na miséria, na ignorância.

O advento da mente acontece ao se ficar identificado com os conteúdos da consciência. É preciso apenas uma pequena mudança, um simples passo, e este passo faz a passagem. Este simples passo faz a passagem do mundo para Deus, do externo para o interno, do mundano para o sagrado. E qual é este simples passo? A não-identificação.
Permaneça uma testemunha. Lembre-se sempre de permanecer uma testemunha; saiba perfeitamente bem que, seja o que for que passe pela sua mente, você não é aquilo. Você não é esta coisa chamada mente. Uma vez que você se torna identificado com qualquer coisa da mente, você caiu numa armadilha, numa prisão. Daí, você pode seguir mudando e ajeitando esta coisa repetidas vezes, mas nada acontecerá.
Isso é o que as pessoas seguem fazendo: melhorando a si mesmas, criando um belo caráter, tornando-se mais santos e religiosos; mas a coisa básica ainda não foi feita. Elas estão simplesmente ajeitando as coisas da mente.

Você pode continuar ajeitando os móveis de sua casa; você pode ajeitar da melhor maneira, com mais estética, mas o material continuará sendo o mesmo. O pecador e o chamado santo não são muito diferentes; ambos são diferentes arranjos da mesma mente.
O verdadeiro sábio é aquele que se torna consciente de que ele não é a mente, definitivamente. A idéia de pecado surge e ele permanece indiferente; a idéia de se tornar um santo surge e ele permanece indiferente. Com nada ele se identifica, raiva ou compaixão, ódio ou amor, bom ou ruim. Ele permanece sem julgamento, ele não condena coisa alguma em sua mente. Se você é apenas uma testemunha, qual é o sentido em condenar alguma coisa? E ele não elogia nada em sua mente. Se você é apenas uma testemunha, elogio é simplesmente fútil. Ele permanece tranqüilo, recolhido e centrado. Enquanto a mente continua esbravejando ao seu redor.

Por milhares de anos você tem permanecido identificado com a mente, tem despejado muita energia nela. Ela segue girando e girando, por meses e anos. Mas se você conseguir permanecer um observador silencioso, um observador na colina, então pouco a pouco a energia, o momentum, é perdido e a mente chega a parar.
No dia em que a mente parar, você chegou. A primeira visão do que é Deus e de quem é você acontece imediatamente, porque uma vez que a mente pára, toda a sua energia que tinha permanecido envolvida com ela, é liberada. E essa energia é tremenda, é infinita: ela começa a descer em você. É uma grande bênção, é graça.

Os chamados revolucionários seguem fracassando porque eles continuam tentando dar um jeito nas mesmas coisas da mente. Alguém acredita em Deus e daí aparece um revolucionário que diz, 'Não há Deus algum e eu não acredito em Deus'. Mas ele é tão fanático com suas idéias como as pessoas que acreditam em Deus.
Crente e descrentes, ambos são fanáticos. Uns se apegam ao sim e outros se apegam ao não, mas sim e não, ambos são partes da mente. Você escolhe uma parte e um outro alguém escolhe a outra parte. Um é cristão e o outro é hindu, mas ambos são mentes. Um escolheu a Bíblia e o outro escolheu os Vedas, mas ambos são partes da mente.

Então, quem é realmente religioso? Aquele que não fez escolhas a partir da mente. Você não pode chamá-lo cristão, nem hindu, nem comunista; você não pode chamá-lo teísta nem ateu. Ele simplesmente é. Ele é indefinível. Você não consegue rotulá-lo. Ser é tão vasto que não pode ser rotulado. Nenhuma palavra é adequada o suficiente para descrever o ser. Em tal vastidão, a liberdade; em tal vastidão, a felicidade.
Esta é a verdadeira revolução: pular da mente para o ser. E o processo será o mesmo.

Se o fazer é o processo da queda do ser para o ter, então, o não-fazer será o processo de voltar para casa.
Meditação não é algo que você faça; meditação é algo que acontece quando você não está fazendo coisa alguma. Você pode sentar-se, aparentemente imóvel, aparentemente nada fazendo, mas no fundo a mente pode continuar. É assim que acontece nos mosteiros e nas cavernas. Você pode não ter muito o que fazer, mas você pode continuar fazendo algumas poucas coisas repetidas vezes. Você pode seguir repetindo um mantra: isso será o suficiente para a mente. Ela seguirá fazendo o mesmo ato novamente, repetindo a mesma fita cassete por anos, e ela não morrerá.

Três iogues estão sentados numa caverna meditando. Um cavalo se aproxima, olha para dentro e vai embora. Alguns anos se passam e um dos iogues diz 'Um cavalo esteve aqui'.
Mais alguns anos se passam e um outro diz, 'Não, era uma égua'.
Depois de mais alguns anos, o terceiro diz, 'Se for começar uma discussão, eu vou-me embora'.

Nada havia acontecido por muitos anos, quando um cavalo apareceu e deu uma olhada dentro da caverna, mas isto foi o suficiente para mantê-los ocupado pelos anos seguintes. Isto é o bastante, a mente pode viver, mesmo com essas poucas coisas. É preciso ficar alerta: a questão não é se você está envolvido em muitos trabalhos ou se você está apenas fazendo umas poucas coisas. Esta não é uma questão de quantidade. A questão é de qualidade.
Você pode ser muito rico, você pode ser um rei, ter muitas posses e ter que permanecer envolvido em mil e uma coisas. Daí, você pode renunciar ao reinado e a todas as suas posses, tornar-se um mendigo e viver num barraco. Isto não fará diferença alguma, em absoluto. Para quem está do lado de fora, para os espectadores, parecerá que ocorreu uma grande revolução: o imperador tornou-se um mendigo, ele fez uma grande renúncia. Mas nada aconteceu internamente.
Primeiro você estava envolvido com os afazeres do reinado, agora você está envolvido com os afazeres do pequeno barraco. Apenas a quantidade foi reduzida, mas a qualidade de sua consciência nunca muda com a redução da quantidade. O homem pobre está preocupado com seu carro de boi e o homem rico está preocupado com sua carruagem dourada. Mas a preocupação é a mesma; a preocupação é da mesma qualidade. O homem pobre preocupa-se com a comida do amanhã e o rei preocupa-se com o país vizinho; o objeto da preocupação é diferente, mas o processo da preocupação é o mesmo. 

A questão é, como mudar o seu foco, da mente para o ser. O fazer trouxe-o para o mundo, o fazer é a escada que o trouxe para o mundo; o não-fazer será a escada... E o não-fazer não é inatividade. Este ponto tem que ser bem compreendido.
O não-fazer não é inatividade, ele não é inação. A ação está ali, porque ação é vida. Se a ação desaparecer completamente, você estará morto. Mesmo respirar é uma ação; comer, digerir, dormir, tudo são atividades. Viver é estar ativo. Então o que é não-fazer, se não é inatividade? Se você entender o não-fazer como inatividade, você não terá entendido coisa alguma. Daí, a inatividade irá se tornar a sua ocupação. Você estará constantemente ocupado em não fazer isto, não fazer aquilo. O seu processo se tornará negativo, mas ele ainda será um fazer: 'eu não posso fazer isto, eu não posso fazer aquilo'. Agora você está preocupado. A mesma tensão estará ali: 'eu não posso comer isto, eu não posso comer aquilo, eu não posso usar esta roupa, eu não posso usar aquela.' Agora você está se tornando negativo, mas o processo, o ego, ainda está ali; a mente ainda está ali. Ela está ali ao lado, mas é a mesma mente. 

O não-fazer é algo que nada tem a ver com ação, mas tem muito a ver com o ego, com a idéia de ego. O fazedor é o ego. É preciso tornar-se um não-fazedor. Aí, Deus é o fazedor e, você relaxa, você não força o rio e não cria agonia para si mesmo ao ir contra a correnteza.
Agonia vem da raiz 'ag'. ' Ag' significa empurrar. Quanto mais você empurra o rio, mais agonia é criada. E enquanto você está empurrando o rio, você está certamente tentando nadar contra a correnteza. Você está indo contra a natureza, contra o Tao, contra Deus.

O não-fazedor é aquele que relaxou com o rio, que está flutuando no rio, fluindo com o rio, aquele que se tornou parte do rio, que não pensa em si separadamente, aquele que não tem um destino individual. Esse é o significado de não-fazer. O destino do todo é o seu destino. 'Para onde o todo estiver indo, eu estou indo também; para qualquer destino ou não-destino. Para onde esta bela existência estiver se movendo, eu sou parte dela. Eu sou uma onda neste grande lago, simplesmente uma pequena onda. Eu não preciso ter um destino individual.'
A partir do destino individual é que surge o medo, a angústia e a agonia. A partir do destino individual, 'eu tenho que fazer algo, eu tenho que ser alguém, eu tenho que atingir algum lugar', que a mente é criada. Fazer significa: 'eu tenho alguma idéia de como eu devo ser, do que eu devo ser'. O não-fazer significa: ' abandonei todas as idéias do meu ser separado da existência'.


Não-separação é não-fazer. A ação continua, mas ela não é mais a sua ação. Agora ela é natural. Se uma cobra passa por uma trilha, você saiu para uma caminhada matinal e vê a cobra passando, você simplesmente dá um salto para fora do caminho da cobra. Não é que você tenha feito aquilo, a ação aconteceu, mas ela é natural. Você não pensa a respeito dela, você não pondera sobre ela. Você não estava de prontidão para aquela ação; você talvez não tenha cruzado com uma cobra antes em sua vida. Você não treinou para fazer aquilo, aquilo não era uma programação em sua mente. Você simplesmente respondeu. Em forma de uma cobra, ali estava a morte. E você respondeu, imediatamente, instantaneamente. A mente nem chegou ali, porque a mente necessita de tempo para ponderar, para pensar, para contemplar. E não havia tempo, a morte estava tão perto; você simplesmente deu um salto.
Sentado debaixo de uma árvore, depois que a cobra passou, você pode pensar sobre ela, agora você tem tempo suficiente para pensar. Mas naquele momento, naquele exato momento, quando a cobra estava ali à sua frente, você simplesmente agiu, não a partir de sua mente, mas a partir de sua totalidade. Aquilo foi um ato de Deus.
O homem que quer realmente se tornar um não-fazedor, começa agindo como um veículo do divino, do todo. A ação continua, mas o ator desaparece. Este é o significado do não-fazer. Você vive a mesma vida, mas agora você tem uma qualidade totalmente diferente, ela tem um sabor diferente."


OSHO - Unio Mystica - Vol. II - Capítulo 3

Um comentário:

Champa disse...

Cada vez mais tenho "agido" como o veículo do divino,estou entregue à vida!

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